segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Documentário sobre comunidade tradicional de MG concorre o 55º Prêmio Margarida de Prata


Foto: João Victor Rodrigues 


Obra que retrata a luta por regularização  fundiária e direitos da comunidade de Cabaceiras, no Norte de Minas Gerais, está entre os finalistas do prêmio de comunicação da CNBB


Por Comunicação | APC


O documentário "Povos da Beira D’água – Comunidade de Cabaceiras, Norte de Minas Gerais" está entre os finalistas na categoria de curta-metragem do 55º Prêmio Margarida de Prata, tradicional premiação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A obra destaca a luta da comunidade tradicional quilombola, pesqueira e vazanteira por seus direitos e reconhecimento.


Sendo o primeiro filme de uma série de reportagens especial que percorreu cinco comunidades no Norte de Minas, a obra aborda  um dos principais desafios enfrentados pelos povos tradicionais em todo o Brasil: a regularização fundiária. Às margens do Rio São Francisco, o Velho Chico, o filme acompanha a comunidade de Cabaceiras  no diálogo com representações  do Estado e denuncia o histórico de violações. Apoiada pelas pastorais do campo, a resistência de Cabaceiras espelha a realidade de muitas outras na região que buscam garantir o direito fundamental à terra para poderem plantar, pescar e manter viva sua cultura ancestral.

Foto: Cláudia Pereira

O documentário que é uma iniciativa da Articulação das Pastorais do Campo (APC),  se destacou entre mais de 470 inscrições nos Prêmios de Comunicação da CNBB, que visa dar visibilidade a trabalhos que promovem os valores do Evangelho e a dignidade humana em diversas plataformas, como rádio, TV, cinema, internet e produções acadêmicas.

Criado em 1967, o Prêmio Margarida de Prata tem um histórico de apoio à produção cultural independente no país, especialmente durante o período da ditadura militar, valorizando obras que lançam um olhar crítico e sensível sobre a realidade brasileira.

O curta-metragem sobre a comunidade de Cabaceiras entra agora na fase final de avaliação, que será conduzida por um Júri-Pastoral composto por bispos indicados pela Comissão de Comunicação da CNBB. Os vencedores da 55ª edição dos prêmios serão anunciados no dia 23 de novembro.




Ficha Técnica do Documentário:

Realização: Articulação das Pastorais do Campo (APC)

Produção e Reportagem: Cláudia Pereira e João Victor

Direção: Cláudia Pereira e Humberto Capucci

Edição e Finalização: Humberto Capucci

Trilha Sonora: Antônio Cardoso, Zé Pinto, André Souza e Ewerton Oliveira



#PovosDaBeiraDagua #PrêmioMargaridaDePrata #ComunidadeCabaceiras #NorteDeMinas #PovoseComunidadesTradicionais #CNBB



sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Melodia da Resistência: A trilha sonora que embala a luta dos povos tradicionais às margens do Velho Chico

Foto: Cláudia Pereira


Composição de Antônio Cardoso para a série documental “Povos da Beira D'água”, da Articulação das Pastorais do Campo, transforma-se em símbolo de esperança para comunidades do Norte de Minas Gerais.


Por Cláudia Pereira| APC


As vozes e as lutas dos Povos e Comunidades Tradicionais do Norte de Minas Gerais reverberam denunciando e anunciando sua ancestralidade e identidade  através da série documental “Povos da Beira D'água”. A iniciativa é da Articulação das Pastorais do Campo (APC) — uma força constituída pelas pastorais irmãs, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), Serviço Pastoral do Migrante (SPM), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Cáritas Brasileira e Conselho Indigenista Missionário (Cimi). A comunicação da APC percorreu cinco territórios produzindo registros audiovisuais sobre a resistência e a identidade desses povos que esperam a regularização fundiária de suas terras.


A narrativa das cinco reportagens é embalada também pela  trilha sonora emocionante, que transcende o papel de fundo musical. Como um complemento especial à produção, ao final de cada filme, após os créditos, o espectador é presenteado com o clipe da música “Povos Tradicionais”, do compositor e cantor Antônio Cardoso. A canção, é um hino de força e sensibilidade, foi composta exclusivamente para a série.


Foto: Cláudia Pereira


A causa e a memória de um povo como inspiração para a canção 

Antônio Cardoso, conhecido no universo da música cristã católica por sua arte e seu trabalho como catequista, foi uma peça essencial no projeto que surgiu de forma quase ocasional. Cláudia Pereira da equipe de reportagem da APC, enquanto a produção da série era decupada e roteirizada, em um diálogo por telefone contatou com o cantor. A ideia inicial era modesta: solicitar a cessão de um solo de violão para compor a trilha.


No entanto, ao ouvir os relatos sobre as comunidades, suas dores e sua teimosia na resistência de luta, a memória afetiva de Cardoso foi ativada. Ele se recordou de conversas com o saudoso Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida e de um momento de vivências junto a essa realidade do povo mineiro. A empatia transbordou em inspiração. O que seria um simples solo de violão floresceu em uma canção completa.


Sensibilizado, Cardoso enviou a melodia em poucos dias. Para a surpresa da equipe, em menos de um mês, a música estava inteiramente produzida, gravada e generosamente cedida para se tornar a alma sonora da série.


“A letra é praticamente uma oração, um acalanto que nutre o "esperançar" não apenas das cinco comunidades retratadas, mas de todos os povos tradicionais do país, especialmente os quilombolas”, disse Cláudia Pereira que produziu a série. A composição traduz em notas tanto a dor da violação de direitos quanto a sublime beleza da ancestralidade.  O clip da música está disponível no canal do YouTube da Articulação das Pastorais do Campo. A produção audiovisual utiliza imagens captadas durante a realização das reportagens nas comunidades, um registro autêntico e próximo da realidade dos povos. A edição e o roteiro são de Humberto Capucci, com cinematografia de Cláudia Pereira e João Victor Rodrigues.


Uma trilha sonora plural

Além da obra de Cardoso, a trilha de “Povos da Beira D'água” é enriquecida pelos talentos dos músicos André Luiz Souza e Ewerton de Oliveira. Os artistas assinam composições originais que enriquecem a imersão e as mensagens nos documentários. Ewerton criou solos de piano que ilustram as denúncias de violência vividas pelas comunidades. Para dar o tom da cultura local, o cantor e compositor Zé Pinto, um dos principais cronistas musicais da luta popular, integrou aos filmes a sonoridade dos povos pescadores e quilombolas com seus acordes de viola, o que enriquece a cultura e a beleza das comunidades que praticam a agroecologia.





As histórias de luta e resistência contadas na Série "Povos da Beira D'água"


As composições ilustram as cinco histórias de resistência documentadas no Norte de Minas. Conheça cada episódio:

1.Comunidade de Cabeceiras (Itacarambi/MG): O primeiro filme aborda a realidade de 30 famílias de vazanteiros e pescadores que vivem às margens do Rio São Francisco. Ameaçados pela pressão de órgãos estatais e pela cobiça de grileiros, eles lutam pelo direito fundamental de manter o modo de vida de seus antepassados, intrinsecamente ligado às águas do Velho Chico.


2.Comunidade de Croatá (Januária/MG): O segundo documentário expõe um histórico de violência que remonta à década de 1970. Expulsões, invasões e incêndios criminosos, orquestrados por latifundiários e pela especulação imobiliária, marcam a trajetória desta comunidade, que reafirma sua  identidade de quilombolas, pesqueira e vazanteira, como ato de resistência.


3.Comunidade de Caraíbas (Pedras de Maria da Cruz/MG): A terceira reportagem é um convite para conhecer o elo sagrado de um povo com o rio. Para os moradores, as margens do São Francisco são o espaço sagrado onde plantam, colhem, pescam e vivem, celebrando uma existência comunitária que resiste em conexão com a natureza e por ser a primeira comunidade tradicional de Minas Gerais a conquistar o Termo de Autorização de Uso Sustentável  (TAUS). 


4.Comunidade Quilombola de Gameleira (Januária/MG): A quarta reportagem aborda reforça a resistência de mulheres, homens e jovens  da comunidade na defesa de seu território, suas águas sagradas e sua cultura. A produção destaca os desafios e as conquistas de um povo que luta incansavelmente pela preservação ambiental, reconhecimento de sua identidade, a luta contra a perseguição de latifundiários e a especulação imobiliária. Sem falar de seus direitos básicos a comunidade luta para manter seu legado ancestral.


5.Comunidade de Canabrava (entre Buritizeiro e Ibiaí/MG): Encerrando a série, o documentário narra a luta da comunidade pesqueira e vazanteira de Canabrava. Há mais de 20 anos, o território enfrenta perseguições e tentativas de despejo forçado, chegando a ser expulsos de suas terras há quase oito anos. O filme se torna mais um instrumento na luta pela retomada e permanência em seu território.


Foto: Cláudia Pereira



terça-feira, 19 de agosto de 2025

Plenária denuncia avanço da violência e criminalização contra os povos


Foto: Heloisa Sousa (CPT- Nacional)


Articulação entre agronegócio, parlamentares e grupos armados impulsiona conflitos e projetos de lei que visam deslegitimar a luta por terra, aponta reflexão da plenária da Campanha Contra a Violência no Campo. 


Por Cláudia Pereira | APC


Uma plenária virtual na tarde de terça-feira (18) marcou o terceiro ano de existência da Campanha Contra a Violência no Campo, reunindo representantes de todo o país para debater a conjuntura atual. Durante o evento, foram feitas análises e denúncias sobre a crescente violência contra os povos do campo, das florestas e das águas. O debate central apontou uma articulação entre o agronegócio, parlamentares e grupos armados como responsável por intimidar e criminalizar os movimentos sociais.


Leonardo Teixeira, advogado e pesquisador do Instituto de Pesquisa de Desenvolvimento Sociais e do Núcleo de Assessoria Jurídica do Universitário Popular (NAJUP), apresentou dados de uma pesquisa sobre a mobilização do latifúndio no legislativo. O levantamento identificou 38 projetos de lei na Câmara dos Deputados e 8 no Senado, entre 2023 e 2024, relacionados ao movimento "Invasão Zero". A Câmara, no total, concentrou 58 propostas sobre o tema. Além disso, outros projetos semelhantes são aprovados nas assembleias legislativas dos estados. 


Um dos projetos que mais preocupa é o PL 709/2023, proposto por Marcos Polo e apoiado majoritariamente pelos partidos do PL (em 65% dos casos), seguido por PP, União Brasil e MDB. Aprovado em regime de urgência na Câmara, o texto busca criminalizar e deslegitimar os movimentos sociais, podendo afetar inclusive advogados que defendem essas causas.


Segundo informações junto ao Ministério Público Federal (MPF), a pesquisa aponta que o movimento "Invasão Zero" é impulsionado por organizações pré-existentes ligadas a atos antidemocráticos e possui um braço político, um econômico e um armado, sendo caracterizado como um grupo paramilitar. O relatório da pesquisa também confirma que mais de 140 empresários do agronegócio estiveram envolvidos em tentativas de golpe após as últimas eleições presidenciais, indicando um financiamento para essas ações.

As ações do "Invasão Zero" para além de seu envolvimento no parlamento, atua fortemente nas mídias digitais. Através destes meios eles promovem  campanhas que moldam a opinião pública a favor do agronegócio. Em uma de suas contas de perfis do Instagram, possui mais de 24 mil seguidores. 

Para compreender ainda mais estes fatos, leia o artigo Invasão Zero no Centro-Oeste: o mapeamento da contrarreação mobilizadora aos movimentos sociais e povos oprimidos nas assembleias legislativas estaduais. 


Plenária virtual realizada pela Campanha Contra a Violência no Campo


Violência contra os povos do campo, das florestas e das águas  

O Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) trouxe um panorama que alerta para as graves violações e violência contra os povos.  Um relatório recente que analisou 450 comunidades entre 2022 e 2024 revelou que 77,6% dos conflitos foram causados por agentes privados, como fazendeiros e empresas. 


As denúncias incluem ameaças constantes de jagunços, como no norte e nordeste do país, e novas táticas para expulsar moradores, como a contaminação de rios por agrotóxicos para prejudicar a pesca e a alimentação das comunidades no Baixo Parnaíba. Além disso, 69,4% das comunidades pesqueiras relatam perda total ou restrição de acesso à pesca, com ameaças violentas de fazendeiros armados. A violência, antes velada, agora é declarada e registrada pelos próprios agressores.

A situação na Bahia é particularmente grave, com a intimidação e violência perpetrada por milícias com forte influência política local, que nem a presença da Força Nacional consegue conter para proteger a população indígena. No Mato Grosso, o governo estadual flexibilizou a legislação para permitir despejos sem ordem judicial.

Fábio Martins (Rede Cerrado) e Paulo Moreira (Projeto Defendendo Vidas/SMDH), participantes da plenária, analisaram que, embora o agronegócio justifique suas ações com a narrativa de "invasões", dados da CPT mostram um aumento da violência no campo e uma drástica diminuição das ocupações por parte dos movimentos sociais, indicando que suas estratégias de resistência estão sendo dificultadas pelo avanço da extrema-direita.


Resistência e próximos passos

Diante do cenário, Jardel Neves Lopes, secretário-executivo da Campanha contra a Violência no Campo, enfatizou a necessidade de unidade e uma campanha de apoio organizada para enfrentar os despejos e conflitos. Ele chamou atenção para o fato registrado no relatório de Violência contra indígenas, dados de 2024, do Cimi, de que 61% dos casos de violência contra o patrimônio como invasões possessórias, exploração ilegal e danos ao patrimônio de Territórios Indígenas ocorreram em terras homologadas e regularizadas, evidenciando a pressão do capital para explorar essas áreas.

Para dar visibilidade ao problema e promover a incidência política, a campanha planeja uma série de ações, entre elas uma atividade junto aos povos e comunidades tradicionais. O encontro será realizado no mês de outubro, em Brasília. Além desta atividade haverá também uma audiência pública para discutir as violências sofridas pelos povos. 


Sobre a Campanha

Com três anos de existência, a Campanha Contra a Violência no Campo reúne mais de 70 entidades da sociedade civil, movimentos populares e pastorais em uma frente ampla de atuação. Seu principal objetivo é propor e fortalecer políticas públicas para a proteção das comunidades do campo, das florestas e das águas. Para além destas ações a Campanha trabalha para sensibilizar a opinião pública e mobilizar comunidades camponesas, coletivos e organizações. São mobilizações que contribui para fortalecer os processos de formação, na qualidade da informação para fins de  denunciar as violações, assegurando que os povos tenham seu direito garantido de ser,  existir e permanecer em seus territórios.


Foto: Cláudia Pereira 



sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Luta e resistência às margens do Velho Chico: Documentário retrata a história da comunidade Canabrava


Comunidade de Canabrava (MG) - Foto: João Victor


Último filme da série ‘Povos da Beira D’água’ estreia dia 21 de agosto, apresenta a luta da comunidade pesqueira e vazanteira pela permanência em seu território sagrado no Norte de Minas Gerais


Por Cláudia Pereira | APC


A história de luta e conexão com o Rio São Francisco da Comunidade Tradicional de Canabrava será contada no documentário “Povos da Beira D’água – Comunidade tradicional pesqueira e vazanteira de Buritizeiro/Imbiaí (MG)”. O filme, que encerra a série de cinco reportagens especiais da Articulação das Pastorais do Campo (APC), estreia no dia 21 agosto às 14h, no canal do YouTube da APC.


“O rio São Francisco pra mim é vida, sem ele nós não somos nada”, expressa a pescadora Rosimeire Silva. Localizada na divisa dos municípios de Buritizeiro e Ibiaí, no Norte de Minas Gerais, o "Velho Chico" para a comunidade é sagrado. Os moradores da comunidade são guardiões da biodiversidade que os cerca, vivendo em uma relação de cuidado e sabedoria com a "nossa casa comum". Esta vivência é o fio condutor da narrativa, construída a partir da perspectiva dos próprios moradores. "Nós, que nascemos e crescemos às margens do Velho Chico, sempre soubemos que cuidar dele é nosso dever primordial", afirma o Sr. Clarindo Pereira, uma das lideranças do território. Ele frisa que o filme retrata as experiências verdadeiras da comunidade, reforçando que "apesar das dificuldades que todos os companheiros e companheiras atravessaram, o futuro é possível ao avistar a esperança e união”. 

Comunidade Pesqueira e Vazanteira de Canabrava (MG) - Foto: Cláudia Pereira


"Nós queremos é sossego, nós não quer cidade não"

 

O documentário é  mais um instrumento na luta da comunidade, que há mais de 20 anos enfrenta conflitos territoriais, perseguições e diversas tentativas de despejo forçado. Ameaçados por processos movidos por fazendeiros, os moradores chegaram a ser despejados há quase oito anos. "Nós queremos é sossego, nós não quer cidade não", desabafa o Sr. Edmar Silva, expressando o sentimento de pertencimento ao território Thiago Valentim, Secretário Executivo da APC, destacou a força dos depoimentos. "Isso nos toca profundamente, porque reflete a luta e a resistência da comunidade, são as pastorais e a própria comunidade que, em seus testemunhos, transmitem a verdade dessa luta de forma muito contundente”. 


A produção audiovisual acompanha a mobilização e a resistência de um povo que a todo momento reafirma sua identidade pesqueira e vazanteira. A luta pelo território levou a comunidade a ocupar a sede da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) em Minas Gerais no primeiro semestre deste ano. A tensão e a esperança desse período são palpáveis no relato de Solange dos Santos: “Estou muito feliz e animada por esse registro da nossa luta, que apesar das diversas dificuldades, podemos celebrar com essa conquista que o documento dará uma certa tranquilidade”. 


A tranquilidade mencionada por Solange tem nome e data. Após uma longa e árdua caminhada de luta, um passo importante foi alcançado. O esforço coletivo da comunidade, apoiado pelas articulações das pastorais e movimentos, especialmente o Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP-MG), alcançou um importante avanço para a conquista do Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS). O documento representa muito mais que a segurança da posse da terra; é o reconhecimento oficial do território, assegurando o direito ao uso dos recursos naturais e a continuidade de seu modo de vida tradicional.

 

A estreia do filme acontece em momentos de expectativa para comunidade que aguardava a entrega do TAUS para esta semana (19/08) e foi surpreendida pelo adiamento. A Superintendência da Secretaria do Patrimônio da União em Minas Gerais comunicou que uma nova data será marcada em breve. O processo de concessão do TAUS foi iniciado neste ano de 2025, após reivindicações da comunidade junto à Secretaria do Patrimônio da União (SPU).



Estreia 

A estreia do filme se torna uma celebração dessa vitória, um eco do grito de luta que  move a comunidade: "No rio e no mar, pescadores na luta! nos açudes e barragens, pescando a liberdade! hidronegócio, resistir! Território pesqueiro e vanzanteiro, Livre!"


A narrativa de todas as cinco reportagens da série  é embalada por uma trilha sonora especial  e potente. Como um complemento especial à produção, ao final de cada  filme, após os créditos, o espectador assiste ao clipe da música “Povos Tradicionais”, do autor e compositor Antônio Cardoso. Ele compôs a canção especialmente para a série e a cedeu para a produção. Além de Cardoso, os músicos André Luiz Souza e Ewerton de Oliveira também compuseram temas exclusivos para o projeto, enriquecendo a experiência e as mensagens do documentário. 


Ficha Técnica do Documentário:

  • Realização: Articulação das Pastorais do Campo/ APC 
  • Produção e Reportagem: Cláudia Pereira | APC e João Victor Rodrigues| SPM 
  • Direção: Cláudia Pereira e Humberto Capucci 
  • Edição e Finalização: Humberto Capucci 
  • Trilha Sonora: Antônio Cardoso, Zé Pinto, André Souza e Ewerton Oliveira 
  • Apoio: Misereor






#CounidadePesqueiraCanabrava #PovosDaBeiraD`água  #PovoseComunidadesTradicionais #ArticulaçãodasPastoraisdoCampo

sábado, 12 de julho de 2025

Em carta, comunidades eclesiais denunciam que PL da Devastação ameaça a Amazônia e seus povos




Documento foi aprovado durante a VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base da Prelazia de Tefé e denuncia os impactos do Projeto de Lei 2.159/202


Por comunicação da Prelazia de Tefé 


Aproximadamente mil participantes da VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Prelazia de Tefé aprovaram por aclamação, nesta sexta-feira (12), em Alvarães/AM, uma carta pública de denúncia e apelo ao povo brasileiro e aos parlamentares contra o Projeto de Lei 2.159/2021, conhecido como PL do Licenciamento Ambiental, ou PL da Devastação. A carta, intitulada "Carta do povo de Deus na Amazônia para todos os brasileiros: Apelo pela Vida, pela Casa Comum e contra o PL da Devastação", foi construída de forma coletiva e recebeu a adesão de outras organizações eclesiais e populares presentes no evento.


No texto, os signatários denunciam que o projeto, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, representa uma grave ameaça à Amazônia, à biodiversidade e aos direitos dos povos originários e comunidades tradicionais. Caso aprovado, o PL poderá permitir a dispensa de licenciamento ambiental para atividades de alto impacto, o fracionamento de processos que ocultam danos reais, a eliminação da consulta prévia a comunidades afetadas, e o enfraquecimento de órgãos fiscalizadores como o IBAMA e o ICMBio. Para os participantes da Assembleia, o projeto institucionaliza o desmonte da legislação ambiental brasileira em nome de interesses econômicos ligados ao agronegócio, à mineração e à especulação fundiária.

O documento parte do coração da Amazônia, com a força dos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores e pescadoras artesanais e camponeses da Prelazia de Tefé, e conclama “as igrejas, religiões, povos originários, movimentos sociais, universidades, lideranças políticas e a cada pessoa de paz” a resistirem ao avanço da destruição. Segundo a carta, aceitar o PL da Devastação é trair o sonho de Deus para a humanidade e legitimar um modelo de desenvolvimento que expulsa povos, envenena rios e devasta a Casa Comum. O texto reafirma a espiritualidade ecológica inspirada pelo Papa Francisco, pela encíclica Laudato Si’, e pela recente mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, que alerta para os impactos da crise climática sobre os mais vulneráveis.





Voz profética do povo da floresta


“Sabemos que o planeta pode até existir sem nós, mas nós não viveremos sem o planeta e esses projetos de morte não levam em conta isso”


Ao comentar a importância da carta, Dom José Altevir, bispo da Prelazia de Tefé, ressaltou seu caráter profundamente missionário e profético. “A missão não é da Igreja, é a missão que tem a Igreja, porque ela nasceu no coração da Trindade, antes da própria Igreja”, afirmou. Para o bispo, as comunidades espalhadas pelos rios, igarapés, lagos e cidades da Prelazia vivem a missão como algo vital, enraizado no cotidiano. “Por isso, no decorrer dessa Assembleia, eu motivei que fizessem uma carta, carta do povo de Deus que vive na Amazônia para todos os brasileiros, uma carta que é um apelo pela vida, que é realmente um apelo pela Casa Comum, contra tudo o que ameaça o ser humano e o meio ambiente”, ressaltou Dom Altevir. O bispo denunciou o avanço de projetos ameaçadores: “Projeto de morte alimentado por um capitalismo selvagem que destrói tudo, aumenta cada vez mais as consequências terríveis das mudanças climáticas, sem levar em conta a vida e a saúde do planeta”, disse. “Sabemos que o planeta pode até existir sem nós, mas nós não viveremos sem o planeta e esses projetos de morte não levam em conta isso”, alertou.


Segundo ele, a carta representa uma voz que “ecoa do meio da mata, do meio do rio, do coração de gente que vive em harmonia com a natureza”. Além de protestar contra o PL da Devastação, o documento reafirma que também a natureza tem direitos, ainda pouco reconhecidos nos debates institucionais. “Se reconhecêssemos os direitos da natureza, alguma coisa salvaria quando se trata da defesa e do cuidado com a Casa Comum”, afirmou. Para Dom Altevir, a carta “tem um sentido muito profético; ela deve ser, realmente, uma voz profética desse povo que chegue aos ouvidos e, quem sabe, aos corações de pessoas de boa vontade, que possam realmente unir-se a nós nesta luta pela defesa do ser humano e da nossa Casa Comum”, finalizou o bispo.

O documento também cita a nota oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), publicada em maio de 2025, que afirma que o projeto promove “a flexibilização dos mecanismos de proteção da vida, das águas, das florestas e dos povos originários e comunidades tradicionais”.


Ao final, a carta propõe um apelo aos parlamentares: que escutem o clamor dos territórios e não aprovem o PL. “Do coração da Amazônia e do profundo da espiritualidade do povo de Deus desta região, surge um apelo pela vida”, afirma o texto. “Não podemos permitir que se destrua o milagre da Casa Comum, fruto do amor criador de Deus.” A carta é assinada pelas CEBs da Prelazia de Tefé e por instituições aliadas que participam do evento.  



Leia a Carta na Íntegra 











segunda-feira, 30 de junho de 2025

Terra, Orgulho e Luta: CPT celebra comunidade LGBTQIAPN+ do campo com série de vídeos



Cartaz elaborado por Ricardo Wagner (CPT-CE), na ocasião do I Encontro Nacional de Diversidades da CPT. Foto: Arquivo CPT


Série, de vídeos  intitulada #DiversidadesDoCampo a CPT joga luz sobre a diversidade de gênero e sexualidade na luta pelo direito à terra, ao território e ao Bem Viver.


Por Everton Antunes (Comunicação CPT Nacional)


Para celebrar e promover a conscientização pelo Mês e Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ – festejado neste sábado (28) –, a CPT produziu a série #DiversidadesDoCampo, impulsionada desde o início de junho nos canais das redes digitais  da Pastoral. O principal objetivo da iniciativa é destacar que os povos e comunidades tradicionais do campo, das águas e das florestas também expressam uma ampla diversidade de gênero e sexualidade, à medida em que lutam pela subsistência e autonomia dos territórios e pelo direito à terra e à vida.

A série ainda conta com depoimentos em vídeo de agentes pastorais de base da CPT, membros de organizações parceiras, bem como de camponeses e camponesas acompanhados pela Pastoral. Ao todo, o projeto prevê o lançamento de seis vídeos – dos quais cinco estão disponíveis para o público. No dia 31 de junho, Yakecan Potiguara – fundadora do Coletivo Caboclas de Indígenas LGBTI+ do Ceará, ativista, atriz, comunicadora e cineasta – encerrou o projeto com um relato sobre as vivências enquanto mulher indígena e pessoa LGBTQIAPN+ no contexto das lutas no campo, pelo território e pelo Bem Viver.


“Que possamos seguir juntos, com coragem, com esse mesmo amor, essa mesma resistência, porque a luta pela terra também é uma luta pela vida. E pela vida de ser quem somos!” – Elaine Ferreira, coordenadora da regional  Rio de Janeiro/Espírito Santo da CPT


Frentes de Mobilização

Oficialmente criado em 22 de setembro de 2021, o Grupo de Trabalho (GT) de Diversidades é uma das frentes de estratégia e discussão sobre sexualidade, raça e gênero desenvolvidos no espaço da CPT. Entre os objetivos do coletivo estão o acolhimento das diversidades que compõem o corpo de agentes da Pastoral, o aprofundamento das questões de gênero, orientação sexual e raça, além do desenvolvimento de ferramentas para o registro de violências contra as diversidades no campo. 

Desde a criação do Grupo de Trabalho, aconteceram debates virtuais para a sistematização do registro de violências no campo com recortes de gênero e sexualidade – juntamente com documentalistas do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (CEDOC-CPT) –  e, entre os dias 27 e 29 de setembro de 2022, houve o I Encontro Nacional de Diversidades da CPT. O evento foi acolhido no município de Hidrolândia, estado de Goiás. 


“A CPT possibilitou que fosse criado o GT de Diversidades, para discutir e construir ações que ajudam na superação de desafios pela população LGBTQIAPN+ – no âmbito da pastoral e nas áreas de sua atuação”, afirma Mauro Jakes, coordenador da regional baiana e integrante do GT de Diversidades da Pastoral.


Orgulho LGBTQIAPN+ e camponês

“A exclusão social e a negação do pertencimento aos territórios atravessam as existências LGBTI+ como cicatrizes abertas nas comunidades que resistem ao avanço do agro-hidro-minero-negócio — um projeto branco, normativo, que impõe monoculturas, seca rios, silencia vozes e lucra com a destruição”, analisa Mayra Souza, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), entidade parceira da CPT.

No entanto, ainda na visão de Mayra, “as existências LGBTI+ não se curvam. Elas brotam no contrafluxo. São sementes de desvio fértil, floresta viva, insubmissas à lógica do lucro. Carregam em si a força da agroecologia, o pulso da diversidade, a autonomia como prática e o respeito profundo ao tempo da terra. Ao contrário do capital, que impõe cercas, as corpas LGBTI+ desenham horizontes livres”, reflete a militante do MAM.

A fala de Mayra conflui com as reflexões propostas para o V Congresso Nacional da CPT, que como lema propõe “Romper cercas e tecer teias”. Aproveitando o mês do Orgulho, é preciso reafirmar que este rompimento e tecimento tem sangue e suor de pessoas LGBTQIA+ do campo, que desde seus corpos-territórios traçam lutas para garantir seu direito de existir, que é atravessada, também, pelo direito à terra, água, trabalho e soberania alimentar.


Confira alguns dos vídeos: 









sábado, 31 de maio de 2025

Documentário " Comunidade de Gameleira" narra a luta por terra, água e identidade quilombola


Lagoa que foi sustento para a comunidade de Gameleira- Imagem: Acervo APC

Quarta reportagem especial  da série "Povos da Beira D’água", filme estreia no Dia Mundial do Meio Ambiente e retrata a resiliência e  fé da comunidade diante da  violação de direitos à vida e à natureza. 


Por Cláudia Pereira| APC


Em celebração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de junho, estreia o documentário "Comunidade de Gameleira",  que lança  luz sobre a história de luta e resiliência da comunidade quilombola de Gameleira, localizada no norte de Minas Gerais. O filme, que integra a série de reportagens Povos da Beira D’água, é uma produção da Articulação das Pastorais do Campo(APC) e revela os desafios e as conquistas de um povo que luta pela preservação de seu território, suas águas sagradas e sua cultura.


Situada na região de Januária, Norte de Minas, a comunidade de Gameleira vivencia  um contexto histórico de conflitos agrários e uma luta constante pela preservação ambiental, especialmente das nascentes e lagoas que deságuam do Rio São Francisco e que já foi fonte de vida e sustento para muitas famílias. O documentário expõe as origens ancestrais da comunidade, sua relação com o lugar e  o ecossistema local, que hoje se encontra ameaçado pela expansão do agronegócio na região.


Narrado por lideranças e anciãos, o filme intercala os depoimentos sobre as dores e a trajetória  da comunidade com imagens do festejo de Nossa Senhora de Fátima, padroeira local, ilustrando a profunda conexão entre a fé e a resistência que sustenta a luta do povo. Entre as conquistas celebradas está o reconhecimento como uma comunidade quilombola e a mobilização na busca de proteger o território, um marco que se tornou a "porta para o conhecimento de seus direitos", garantindo o acesso à formação sem renunciar à preservação de sua cultura ancestral.


Lideranças narram a luta da comunidade - Foto: Cláudia Pereira 

Apesar dos poucos avanços, porém significativos a comunidade celebra a recente indicação para o cadastro de regularização de seu território pelo Estado. Contudo a  comunidade ainda enfrenta graves violações de direitos. Muitas famílias carecem de acesso a serviços básicos como transporte, saúde, saneamento, escolas e internet. 


O filme denuncia as constantes ameaças e a criminalização sofridas por esses povos, frequentemente acusados injustamente de crimes ambientais enquanto defendem seus territórios. São relatos que representam povos e comunidades tradicionais do Brasil que lutam pela construção e defesa do bem viver e da nossa “Casa Comum”.


Velas - Festejo de Nossa Senhora de Fátima, padroeira da Comunidade - Foto: Cláudia Pereira


O documentário da comunidade de Gameleira destaca a importância de registrar e perpetuar a história do quilombo para as próximas gerações. As palavras dos entrevistados transmitem uma mensagem de otimismo e recuperação, incentivando a não desistir da luta pelo direito de ser, existir, preservar e de utilizar suas terras para a produção agroecológica.


“No início, enfrentávamos o abandono e a falta de recursos básicos, como água e luz. Nos organizamos em associação comunitária em 1986 e, com o apoio das pastorais e da igreja, conseguimos acesso à luz elétrica. Em 2006, nossa identidade quilombola foi reconhecida, e iniciamos o processo para obter o certificado da Fundação Palmares, o que conquistamos em 2012. Isso nos permitiu reivindicar ainda mais nossos direitos”, relata Maria Paixão, uma das lideranças da comunidade de Gameleira.




A produção é fruto do apoio de organizações que acompanham de perto a realidade das comunidades, como o Conselho Pastoral de Pescadores (CPP MG), a Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG) e a Cáritas Brasileira (MG), que compõem a Articulação das Pastorais do Campo. A comunidade conta ainda com o suporte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDH MG) e da Defensoria Pública.


Ficha Técnica:

Realização: Articulação das Pastorais do Campo

Produção e Reportagem: Cláudia Pereira | APC e João Victor Rodrigues| SPM

Direção: Cláudia Pereira e Humberto Capucci

Edição e Finalização: Humberto Capucci

Trilha Sonora: Antônio Cardoso, Zé Pinto, André Souza e Ewerton Oliveira

Apoio: Misereor