quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Representação dos Povos Indígenas e quilombolas foram eleitos como prefeitos em 22 cidades


50 anos da 1ª Assembleia de Chefes Indígenas - Foto: Maiara Dourado/Cimi

Ao todo, sete indígenas e 15 pessoas de comunidade quilombola foram eleitas como chefes do executivo municipal nas eleições de 2024


*Verônica Serpa | Alma Preta


As eleições municipais de 2024 tiveram, pela primeira vez, a participação de mais de três mil candidatos autodeclarados quilombolas. Para os indígenas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indicou um aumento de 14% nas candidaturas em relação ao pleito de 2020. Ao final da disputa, 22 cidades elegeram sete candidatos indígenas e 15 quilombolas como prefeitos.

Segundo o TSE, o perfil dos políticos quilombolas é majoritariamente masculino, com apenas duas mulheres compondo o grupo. Eles somam oito pessoas autodeclaradas como pretas, seis pardas e três brancas. Todas as regiões do país tiveram ao menos um prefeito quilombola eleito, com exceção do Sul.

No estado de Goiás, as cidades de Cromínia, Corumbá, Cavalcante e Professor Jamil terão suas prefeituras comandadas por um quilombola, assim como as cidades tocantinenses de Chapada da Natividade, São Félix do Tocantins.

Os prefeitos quilombolas também foram escolhidos em Alcântara (MA), Nova Olinda do Maranhão (MA), Antônio Cardoso (BA), Santaluz (BA), Borda da Mata (MG), Vargem Alegre (MG), Senador Sá (CE), Brejo do Piauí (PI), Barra do Turvo (SP) e Mocajuba (PA). Outros 334 candidatos foram eleitos como vereadores nas Câmaras municipais, dos quais 262 eram homens e 72 mulheres.


Encontro dos Povos e Comunidades Tradicionais da Teia dos Povos - MA - Foto: Cláudia Pereira - APC


Prefeitos quilombolas eleitos em 2024:

  • Fernando Cardoso (UNIÃO)
  • Chico Vaca (PL)
  • Vilmar Kalunga (PSB)
  • Ney Novaes (PT)
  • Elio Dionizio (Republicanos)
  • Gercimar (Republicanos)
  • Cezinha (MDB
  • Nivaldo Araújo (PSB)
  • Valdenir (MOBILIZA)
  • Jocivaldo Joci (PT)
  • Dr. Arismário (AVANTE)
  • Tati Cobra (UNIÃO)
  • Cilinha (PSD)
  • Bel Júnior (PP)
  • Fabiano Lira (PT)
  • Dr. Victor MAruyama (PODEMOS)
  • Aluísio do Teca (REPUBLICANOS)


Sete prefeitos indígenas

A declaração de pertencimento à etnia indígena também foi novidade nas eleições deste ano. De acordo com o TSE, a adoção do documento auxilia na contenção de fraudes relacionadas as autodeclarações por indicar que o candidato está ligado a um território indígena.

De acordo com o TSE, no último domingo (6), foram eleitos prefeitos indígenas nos municípios de São Gabriel da Cachoeira (AM), Normandia (RR), Uiramutã (RR), São João das Missões (MG), Manga (MG), Marcação (PB) e Pesqueira (PE). 

A candidata Ninha (PSD) foi a única mulher indígena eleita como prefeita, em Marcação (PB). Para os cargos do legislativo, foram eleitos 214 indígenas, entre 180 homens e 34 mulheres.


Confira a lista dos prefeitos indígenas eleitos:

  • Egmar Curubinha (PT) – etnia Tariana
  • Dr. Raposo (PP) – etnia Makuxí
  • Tuaua Benício (REDE) – etnia Makuxí
  • Jair Xakriabá (REPUBLICANOS) – etnia Xakriabá
  • Anastácio Guedes (PT) – etnia Xakriabá
  • Ninha (PSD) – Potiguar
  • Cacique Marcos – etnia Xucuru


*Texto originalmente publicado no site Alma Preta


#Eleições2024

domingo, 29 de setembro de 2024

Voto consciente é ferramenta da soberania popular

Imagem: Ilustração Internet

O nosso voto nestas eleições municipais é fundamental, especialmente para os povos e comunidades tradicionais, que possuem um histórico de luta em defesa da vida e garantia da terra e territórios


Por Cláudia Pereira*


Houve um tempo em nosso processo histórico eleitoral em que a classe trabalhadora, os povos indígenas e os negros não tinham o direito de votar. O direito de voto das mulheres brasileiras foi garantido na década de 1930. Finalmente, na constituição de 1988, brasileiras/os conquistaram o pleno direito de escolher seus representantes. Um marco significativo. O ato de votar não é essencialmente para a participação na Democracia brasileira, que tem sido ameaçada nos últimos tempos, mas permite a possibilidade de promover transformações sociais, especialmente para os povos do campo, das florestas, das águas, e também para os povos da cidade. 

Neste ano, o nosso compromisso nas urnas durante as eleições tem poder de causar impactos significativos nos municípios e no país. Por que as eleições do seu município afetam toda a nação? Como sabemos, as funções dos poderes em nosso extenso Brasil são divididas entre o legislativo, executivo e judiciário, os quais devem atuar de forma conjunta e independentes entre si. Nos municípios, essa divisão é semelhante, com a câmara legislativa atuando no mesmo sentido. É nesse espaço de poder que os vereadores assumem a função de representar os interesses da população, criar leis e fiscalizar as ações da prefeitura. O poder executivo é atribuído ao prefeito, responsável pelos interesses públicos e por administrar os recursos de forma responsável.  

As eleições municipais têm efeito na esfera política em todo país, através da disputa partidária, na formação de prefeituras e câmaras municipais, que podem afetar as relações entre o estado e o governo federal, de forma negativa ou positiva. Além das políticas municipais, que podem ser conduzidas de forma eficiente ou desastrosa. 

O voto consciente é uma ferramenta poderosa da soberania popular. É ele que vai influenciar de forma direta a vida de todos nós. O nosso voto nestas eleições é fundamental, especialmente para os povos e comunidades tradicionais, que possuem um histórico de luta em defesa da vida e garantia da terra e territórios. É importante que façamos escolhas por candidatos/as que de fato tenham compromisso, transparência e histórico de prioridade aos temas que envolvem o acesso à terra, reforma agrária, segurança alimentar, políticas de desenvolvimento sustentável, proteção aos direitos dos povos. Estes candidatos/as a prefeitos e vereadores precisam assumir as demandas que impactam as políticas públicas das comunidades em seus programas de governos e não somente nas promessas de palanque. 

É importante alertar que compra e venda de voto é um crime contra a democracia e causa consequências graves aos municípios. Portanto, nada de cair nas ciladas de candidatos que fazem “doações”, promessas de empregos, cargos ou qualquer troca de favores. O código eleitoral determina multas e até quatro anos de prisão para estes casos. 

O voto nas eleições municipais deste ano é uma ferramenta poderosa para escolher a representação dos povos. Não podemos votar em branco, não podemos nos privar de utilizar esta ferramenta democrática e votar com responsabilidade, afinal, é o nosso futuro que está em jogo. 

O cargo executivo de prefeito ou legislativo dos vereadores deve ser ocupado por lideranças que representam a luta de classes, os operários, quilombolas, indígenas, LGBTQIAP+, ribeirinhos, pescadores, pessoas compromissadas com as causas. Claro que não teremos este cenário ideal, mas certamente podemos escolher candidatos e partidos que possuem transparência, políticas com objetivos concretos que beneficiam o município e os territórios, candidatos que de fato têm compromisso em combater a violência contra os povos e a corrupção.

Vamos utilizar de nossa ferramenta soberana e popular de forma consciente e em defesa da vida e da democracia. 


*Cláudia Pereira é jornalista, produtora audiovisual, atua na comunicação popular, e nas  pautas de direitos humanos e socioambientais.

*Artigo publicado originalmente no Jornal Pastoral da Terra (CPT)

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Conhecimento que potencializa a luta por direitos dos povos e comunidades tradicionais


Foto: Helson  Alves (PJR)

Alunos da 3ª turma do curso de Direito Agrário, partilham experiências em acessar o conhecimento jurídico para a defesa dos povos, territórios e questões socioambientais 

Por Cláudia Pereira |APC


Nesta quarta-feira (25) encerrou o terceiro módulo do Curso de Especialização em Direito Agrário, realizado com a parceria da Articulação das Pastorais do Campo (APC) e a Universidade Federal de Goiás (UFG). Entre os dias 11 a 25 de setembro, 40 alunos que integram as pastorais do campo e organismos da igreja católica, estiveram reunidos no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO). Foram quinze dias de imersão no conhecimento do Direito Agrário, um intercâmbio da academia e saberes dos povos do campo, das florestas e das águas.

Nesta edição, o curso modular apresenta uma turma bastante plural que reúne quatro regiões do país, onde os conflitos por terra e violações socioambientais ganharam destaque nos jornais nos últimos meses. Na região Centro-Oeste, comunidades indígenas sofreram ataques e, em menos de uma semana, dois jovens indígenas foram assassinados. Na região Sudeste o fogo provocou prejuízos irreparáveis. Na região Nordeste, enquanto o governo federal firmava direitos para algumas comunidades tradicionais quilombolas, outras enfrentavam ordem de despejo em seus territórios. Já o Norte do país, que além de enfrenta as queimadas, sofre com estiagem das chuvas que secaram os rios. Fatos graves que impactam todo o país.

Mas o que esses fatos representam para os alunos do Curso de Especialização em Direito Agrário das pastorais do campo? Representa aprofundamento nos debates sobre a  proteção dos povos e a busca pela partilha equitativa da terra. Em entrevista, alunos desta terceira edição destacam  aspectos relacionado à violência, a proteção dos povos e o Bem Viver dos das comunidades e territórios tradicionais. A comunicação da Articulação das Pastorais do Campo (APC), entrevistou alunos da 3ª turma, que compartilharam suas experiências no curso, além de discutir os contextos de suas pastorais, comunidades e territórios.

Os jovens Dinah Rodrigues e Ítalo Kant são formados em Direito e atuam na Comissão Pastoral da Terra (CPT), em regiões diferentes. Dina mora na região Centro-Oeste e enfrenta diversas lutas, conflitos de terra e também conquistas.  Ítalo encontra-se na região Sudeste em que os danos socioambientais através da mineração impactam a vida de muitas comunidades e povos tradicionais.  

 

Confira os destaques das entrevistas


Foto: Pastoral da Juventude Rural (PJR)

 

Os instrumentos jurídicos como ferramenta de luta


"Os nossos territórios em sua maioria, são terras públicas que não foram desmembradas do patrimônio da União"









Para Dinah da Silva Rodrigues, da Comissão Pastoral da Terra (CPT-TO), o curso tem colocado elementos de reflexão na luta dos camponeses pelo acesso e defesa de direitos da região em que vive. Ela pontua a desconstrução dos instrumentos do Direito Agrário em favor do agronegócio. A legislação que seria ferramenta legal para acessar o uso da terra para camponeses, no contexto histórico do país, proporciona conflitos e devastação ambiental. Neta de camponeses, Dina pertence a uma região do país que registrou mais de 80 conflitos em 2023. 

Comunicação APC - Dinah, nestes módulos do curso, qual é sua reflexão sobre o acesso à justiça para o povo camponês, considerando o nosso contexto atual?


Me chama atenção a desconstrução do Direito Agrário ao longo do tempo. Observa-se as transformações do direito agrário em o direito do agronegócio. Instrumentos que eram utilizados em defesa dos povos e territórios são utilizados para garantir direitos ao capital. Utilizam instrumentos para a regularização fundiária e, assim, conseguem títulos de maneira fraudulenta, utilizando subterfúgios jurídicos para obter a titulação de territórios, mesmo sem exercer a posse direta.


Comunicação APC - Considerando as inúmeras lutas nas comunidades e territórios, qual o maior enfrentamento nesta conjuntura?

Os nossos territórios em sua maioria, são terras públicas que não foram desmembradas do patrimônio da União. Embora não se diga que não há dicotomias na Constituição, nós temos dois direitos fundamentais em disputa: o direito à propriedade privada e o direito à moradia. Atualmente, o nosso maior enfrentamento está sendo legitimar essa posse, reconhecer esse direito constitucional à moradia, reconhecer a constitucionalidade da reforma agrária frente a essa reivindicação da propriedade privada. Os grileiros apresentam títulos e dizem que o lugar pertence a eles, sem nunca ter sido deles. 

O judiciário deve reconhecer que a propriedade privada e o direito à moradia estão na Constituição. Se existe uma disputa entre dois direitos, ele tem que procurar quem de fato exerce o direito naquela comunidade ou território. Precisamos apontar para esse judiciário, que é majoritariamente branco e masculino, que essas comunidades são, em sua maioria, formadas por pessoas que possuem ancestralidade e todo um contexto histórico. 


Comunicação APC - Como você se sente neste espaço de aprendizagem e de que forma o curso contribui nas comunidades e territórios?

 Estar neste espaço e ser neta de um homem negro assentado, que também lutou pelo seu território, me leva acreditar  que essa luta é uma forma de honrar a minha ancestralidade. Estar aqui é lutar pelo Bem Viver dos povos, é honrar o que eu sou.

Acho que a maior contribuição desse aprofundamento aqui no curso, é potencializar os nossos argumentos jurídicos. Quanto mais aprofundar a instrumentalização do direito, melhor será a defesa na luta pelo acesso à terra. Esse conhecimento e saberes são nossas armas jurídicas para utilizar nessa luta, que é uma guerra. São eles contra as nossas comunidades. E dentro dessa circunstância, a gente tem que ter instrumentos viáveis. Dentro da legalidade, são justamente esses instrumentos jurídicos que vão nos possibilitar essas vitórias, nas batalhas que enfrentamos lá na base.


Direito Agrário para além da  perspectiva da luta por reforma agrária



 "
O que estamos adquirindo aqui vai fortalecer nossos territórios e comunidades e as nossas estratégias jurídicas"




Ítalo Kant, da Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG) , vivencia as questões de conflitos agrários, mas no contexto de enfrentamento à mineração. Há décadas que os povos de Minas Gerais vivenciam lutas acirradas com os grandes empreendimentos. O estado é fatiado pelas mineradoras e desde 2007 sofre com os crimes ambientais, o último ocorrido em 2019 em Mariana. Crimes ambientais que muito pouco foi feito no processo de reparação para as famílias de pequenos agricultores, pescadores e comunidades tradicionais.


Para Ítalo, o Direito Agrário precisa ser observado, estudado para além da  perspectiva da luta por reforma agrária. Ele compreende que o direito agrário é abrangente, a partir das realidades dos territórios e perpassa pelos demais direitos que são fundamentais para  a dignidade humana.


Comunicação APCQuais são suas perspectivas a partir destes conhecimentos adquiridos até o momento e de que forma esse aprendizado respalda nas comunidades e pastorais?

Estarmos aqui nesse espaço de aprendizado é uma oportunidade enorme. Temos várias pastorais que trabalham com temáticas diversas. Isso nos proporciona um olhar para além de nossas experiências. Quando abordamos a temática da regularização fundiária, os companheiros do Cimi, por exemplo, nos apresentam a questão das terras indígenas. A CPT aponta as questões dos assentamentos, a CPP coloca luz sobre as lutas das comunidades pesqueiras. São óticas diferentes sobre uma mesma situação. Fazer essa especialização é um espaço riquíssimo de conhecimentos e de experiências que nos empodera.

É importante frisar que estas pastorais desta articulação, possuem mais de 40, 50 anos de caminhada e são trajetórias históricas de luta. O que estamos adquirindo aqui vai fortalecer nossos territórios e comunidades e as nossas estratégias jurídicas. O formato do curso nos permite conhecer outras  realidades, biomas diferentes, outros contextos de violência e podemos nos articular melhor quanto pastorais, organismos e comunidades.


Comunicação APC O formato do curso, o espaço físico  onde é realizado, que não é acadêmico e que permite a faculdade vir até os alunos, são fundamentais neste processo. Qual sua análise da construção deste caminho entre as pastorais e a faculdade?

Me sinto extremamente feliz por estar nesse espaço da chácara do Cimi, onde nos sentimos acolhidos. É um lugar repleto de simbolismo, espaço apropriado para aprofundar nosso conhecimento. Por ser um espaço fora da academia, nos possibilita  desenvolver o assunto sem formalidades técnicas. Considero fundamental a academia vir até nós neste processo inverso, especialmente no contexto das pastorais do campo, que é significativo para ambas as partes. O conhecimento  científico não pode ser construído apenas dentro da academia, necessita da troca de experiências.

Estamos felizes com a parceria da Universidade Federal de Goiás (UFG), que possibilita essa construção que é o compromisso público das universidades com a sociedade. Quantos jovens dos territórios onde atuamos, trabalhamos, tem o sonho em cursar uma universidade? Quantos deles gostariam tem de fazer  um mestrado, um doutorado ou uma especialização? Este acesso ao conhecimento do Direito Agrário nos possibilita fortalecer a luta, que outros dos nossos tenha acesso a faculdade. Nos possibilita a luta pelo direito de acesso à terra e território e fortalece o conhecimento científico da Universidade Pública. Portanto, todos nós ganhamos com este curso.


Comunicação APCComo você avalia a iniciativa destas pastorais e organismos que se juntam nesta articulação para promover e avançar no conhecimento neste curso de especialização?

É uma iniciativa espetacular, não se faz a luta sozinho. Somos pastorais irmãs, temos que estar juntos/as, de braços dados. Essa unidade demonstra a importância de estarmos  sempre alinhados na luta. Quem ganha mais com essa articulação são as comunidades e territórios na busca de acesso aos seus direitos. Esperamos que essa iniciativa não fique apenas na especialização, que venham os espaços para o mestrado, possivelmente um doutorado e continuarmos com esse processo de formação. Essa turma não é formada por advogados e advogadas, mas também com o corpo técnico, as  lideranças da base. E quem sabe um dia nós tenhamos um ministro, ou ministra da Suprema Corte, um desembargador, um ministro do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), saindo justamente desse espaço, deste nosso chão de luta. Precisamos popularizar o nosso sistema judiciário.


Mais um módulo

A terceira turma terá mais um módulo agendado para o primeiro semestre de 2025, encaminhamentos para a produção de conclusão do curso. A Especialização em Direito Agrário é organizado pela Articulação das Pastorais do Campo que integra a Comissão da Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Conselho Pastoral de Pescadores (CPP), Serviço Pastoral do Migrante (SPM), Pastoral da Juventude Rural e Cáritas Brasileira. 

O curso é realizado em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), em convênio com a Faculdade de Direito e com o Programa de Pós-Graduação em Direito Agrário (PPGDA) da UFG. O curso tem objetivo de capacitar agentes das pastorais do campo na defesa de seus direitos, em especial os povos e comunidades tradicionais.


Foto: Pastoral da Juventude (PJR)


quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Comunidades quilombolas do Maranhão enfrentam ameaça de despejo



Area do território, devastada por grileiros - Arquivo da comunidade

O mandado de Reintegração de Posse expedida pela Justiça impõe 72 horas para a comunidade se retirar, caso contrário utilizaram o uso da força


Movimento Quilombola do Maranhão, divulga nota referente a decisão da Justiça do estado do Maranhão que determina reintegração de posse às comunidades quilombolas de Pacuã. Lideranças da comunidade que no início deste ano receberam ameaças de morte, agora enfrentam ação de despejo. O Quilombo Pacuã que integra o Território Sudário, município de Pinheiro, (MA)  sofre constantes ameaças da especulação imobiliária além dos danos ambientais provocados pelos grileiros. 


O mandado de reintegração que determina para que dezenas de famílias desocupem a área de forma voluntária, viola o direito dos povos que são centenários e pertencentes ao território, com seu modo de viver preservando o meio ambiente. “Não. Não há saída voluntária. De todo modo, sentimos a força bruta do Estado a criminalizar nossos corpos e nossas memórias, novamente nos descartando nas periferias das cidades”, cita o trecho da nota.



Nota de Repúdio


O Movimento Quilombola do Maranhão vem a público expressar seu veemente repúdio à recente decisão da Justiça que determinou a reintegração de posse de terras que historicamente pertencem às comunidades quilombolas de Pacuã, Proteção e Caruma no município de Pinheiro no estado do Maranhão. Essa ação não apenas desrespeita os direitos territoriais reconhecidos pela Constituição Brasileira, como também ignora a luta e a resistência dessas comunidades ao longo de gerações.

O mandado de Reintegração de Posse foi determinado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em uma ação judicial que tramita na 5ª vara da Justiça Federal do Maranhão. Às comunidades que ocupam centenariamente o Território foram estabelecidas a partir do dia 17 terça-feira, 72 horas para saírem voluntariamente de seu território. Perguntamos: é possível sair voluntariamente do lugar onde viveram seus ancestrais? É possível apagar dos seus corpos as marcas ancestrais daquele lugar? É possível deixar para trás a Memória de sofrimento causado pela escravidão e a Resistência àquele Sistema?

Não. Não há saída voluntária. De todo modo, sentimos a força bruta do Estado a criminalizar nossos corpos e nossas memórias, novamente nos descartando nas periferias das cidades.

Há quatro anos o território Sudário enfrenta assédio, invasões e desmatamento de invasores estelionatários que vendem as terras para várias pessoas, entre elas o empresário Paulo Roberto Lopes Cavalcante, conhecido por “Paulo Guedes”.  Desde o mês de janeiro de 2024, as comunidades quilombolas sofrem constantes ataques violentos, as lideranças são perseguidas e ameaçadas de morte pelos invasores. 

A proteção das terras quilombolas está cravada na nossa Constituição Federal, na Resolução nº 510 de 23 de junho 2023 do CNJ, na Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho OIT e em outros Tratados Internacionais. Demarcar e titular as terras quilombolas é um Dever do Estado Brasileiro. 

Demarcar e titular deve ser parte da agenda política dos governos e da sociedade na luta contra os efeitos das mudanças climáticas, cujas consequências já se apresentam devastadoras e uma ameaça à própria continuidade da espécie humana.

Convocamos todas as pessoas, organizações e instituições a se unirem a essa causa, manifestando solidariedade às comunidades de Pacuã, Proteção e Caruma para que possa haver uma adequação da decisão judicial às normas legais de proteção aos direitos humanos, e de proteção aos direitos sócio territoriais das comunidades quilombolas. 

Reafirmamos nosso compromisso com a justiça social, a defesa dos direitos humanos sócio-ambientais, e nos colocamos ao lado das comunidades quilombolas Pacuã, Proteção e Caruma na luta por seus direitos.


Maranhão 18 de Setembro de 2024.


quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Ação policial deixa Guarani Kaiowá morto na TI Nhanderu Marangatu





O jovem Neri Guarani Kaiowá foi morto a tiros nesta quarta-feira (18) durante ataque à retomada dos indígenas na Fazenda Barra, sobreposta à Terra Indígena. 


Por Assessoria de Comunicação do Cimi


O jovem Neri Guarani Kaiowá foi morto a tiros nesta quarta-feira (18) na Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu durante ataque à retomada dos indígenas na Fazenda Barra. Conforme apuração junto ao povo, uma mulher também teria sido atingida na perna por disparos de arma de fogo e os barracos da retomada foram destruídos. A Força Nacional não estava em área.


A violência contra os Guarani e Kaiowá começou na madrugada e seguiu pela manhã. A Polícia Militar arrastou o corpo de Neri para um pedaço de mata. A ação dos policiais gerou revolta entre os indígenas, que passaram a avançar para o local em que o corpo foi levado. Novos confrontos se estabeleceram, mas os policiais seguiram com a decisão de afastar o corpo dos Guarani e Kaiowá. Na noite desta terça (17), vídeos feitos em Antônio João anunciavam a iminência da agressão.


Os ataques contra a retomada Guarani e Kaiowá ocorreram no mesmo local em que os indígenas receberam na sexta-feira (13) a Missão de Direitos Humanos organizada pelo Coletivo de Solidariedade e Compromisso aos Povos Guarani, que na semana passada percorreu o oeste do Paraná e no Mato Grosso do Sul visitou a TI Nhanderu Marangatu, atacada um dia antes, além das retomadas da TI Panambi – Lagoa Rica, em Douradina.


Conforme os indígenas, atiradores “mercenários” estavam junto à PM durante o ataque realizado contra a comunidade. “Foi a PM. Já estão nos atacando desde antes da vinda da Missão de Direitos Humanos”, denuncia uma indígena ouvida. Na quinta-feira (12), três indígenas já haviam sido baleados pela PM na TI Nhanderu Marangatu: Juliana Gomes segue hospitalizada em Ponta Porã depois de levar um tiro de arma letal no joelho; a irmã e um jovem levaram tiros de bala de borracha.


Indígena Guarani Kaiowá morto na TI Nhanderu Marangatu em ação policial realizada na manhã desta quarta-feira (18). Foto: povo Guarani Kaiowá

PM mata e altera local da perícia

A tática é a mesma: um indígena é morto a tiros e policiais militares alteram a cena do crime para alterar, dificultar ou inviabilizar a perícia. Conforme apuração, a equipe jurídica que assessora a Aty Guasu, a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá, solicitou à Polícia Federal ir ao local retirar o corpo do Neri.


Na última terça-feira (10), noticiou o jornal Campo Grande News, o corpo de Vitor Fernandes Guarani e Kaiowá, de 42 anos, precisou ser exumado para nova perícia. O indígena morreu em 2022 sob ataque de policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar. O caso aconteceu em Amambai, distante 351 quilômetros de Campo Grande, e ficou conhecido como Massacre de Guapoy.


Até o momento da publicação desta matéria, mais informações estão em processo de atualização.


#Bastadeviolência



sábado, 14 de setembro de 2024

CEPAST-CNBB denuncia violência contra Guarani e Kaiowá e Avá Guarani

Missão em solidariedade aos Guarani visita tekoha Yhovy. Foto: Renato Santana/Cimi

A Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB (CEPAST-CNBB) emitiu uma nota em 13 de setembro de 2024, manifestando seu apoio à Missão Solidária de Direitos Humanos que visita os povos Guarani e Kaiowá no oeste do Paraná e Mato Grosso do Sul. A Comissão expressa profunda preocupação com os relatos de violência e desrespeito aos direitos desses povos originários, que enfrentam ameaças à sua existência, expulsões de suas terras ancestrais e violação de direitos básicos.

A nota repudia veementemente as ações de fazendeiros e jagunços que, com a suposta conivência de autoridades locais, promovem um clima de terror contra os indígenas. A CEPAST denuncia a criminalização e a violência contra esses povos como um atentado à dignidade humana e à Constituição brasileira.

Comissão se une à luta dos Guarani e Kaiowá e exige que o Estado brasileiro cumpra seu dever constitucional de proteger os povos indígenas, garantindo a demarcação imediata de suas terras e a punição dos responsáveis pela violência. Além disso, conclama a sociedade brasileira a se solidarizar com a causa e lutar por um país onde todos os povos possam viver em paz, com seus direitos e culturas respeitados.


Leia a nota íntegra 


BASTA de violência contra os povos Avá Guarani e Guarani e Kaiowá!

Nota de Apoio da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB


    A Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEPAST-CNBB) se solidariza integralmente com a Missão Solidária de Direitos Humanos em sua visita aos povos Avá Guarani e Guarani e Kaiowá. Acompanhamos com grande apreensão os relatos de violência e desrespeito que ameaçam a existência desses povos originários, expulsando-os de seus territórios ancestrais e violando seus direitos primordiais, entre os quais a garantia da permanência na terra. É uma ameaça à existência dos Avá Guarani e Guarani e Kaiowá.

Não podemos nos calar diante dessa barbárie! Repudiamos veementemente as ações de fazendeiros e jagunços que, com a conivência de autoridades locais, promovem um verdadeiro cerco de terror contra os povos indígenas. A criminalização e a violência contra esses povos são um atentado contra a dignidade humana e uma afronta à Constituição brasileira.

A CEPAST se une à luta dos Avá Guarani e Guarani e Kaiowá e de todos os que defendem a justiça e os direitos dos povos originários. Exigimos que o Estado brasileiro cumpra seu dever de proteger os povos indígenas, garantindo a demarcação imediata de suas terras e a punição exemplar dos responsáveis pela violência.

Conclamamos toda a sociedade brasileira a se unir a essa causa urgente. Não podemos permitir que a ganância e o preconceito continuem a ameaçar a vida e a cultura dos povos originários deste país.

Juntos, lutaremos por um Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos onde todos possam viver em paz, com seus direitos garantidos e suas culturas respeitadas!


 

Brasília, 13 de setembro de 2024


Dom José Valdeci Santos Mendes

Bispo de Brejo – MA

Presidente da CEPAST-CNBB


#DemarcaçãoJá #GuaraniKaiowá #DireitosIndígenas #TerraIndígena #CNBB 

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Filme da Campanha Contra a Violência no Campo, denuncia conflitos históricos e estrutural


Massacre Pau  D`arco em 2017 (PA) - Foto: Repórter Brasil 

 “Vida e Terra Sim, Violência Não”,  filme expõe dados históricos sobre violência que atinge povos, do campo  das florestas e das águas


Por Cláudia Pereira | APC

Rafaela Ferreira | CCVC


O vídeo foi lançado durante o seminário dos povos contra a violência, evento realizado em Brasília entre 20 a 23/08 e que denunciou mais uma vez as diversas violações de direitos e exigiu do Estado medidas urgente e efetivas. O vídeo institucional marcar dois anos de atuação da Campanha Contra a Violência no Campo e ilustrando dados que narram a violência sistêmica contra os povos do campo, das florestas e das águas. 

Com duração de sete minutos, o vídeo inicia com manchetes dos veículos oficiais do país, que recorda o assassinato de Mãe Bernadete, líder quilombola em agosto de 2023, com 12 tiros, no quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA). Entre as manchetes de crimes ambientais a abertura do vídeo trás a memória de Paulo Paulino, líder indígena Guajajara, morto por madeireiros, em novembro de 2012, na região de Bom Jesus das Selvas, Maranhão.


“O vídeo trás dados muito significativo e faz uma visão panorâmica desde 1500, quando o Brasil é ocupado por povos europeus. Nos coloca a reflexão do período de escravidão e destaca os últimos dez anos de violência no campo". 


Em outro momento o vídeo faz questionamentos reflexivos sobre dados históricos da violência, o vídeo reforça as denuncias contra os povos e registrados desde o ano de 1985.  Nos últimos 10 anos, foram registrados mais de 17. 600 ocorrências de conflitos de violência envolvendo terra, mais 1.406 casos de conflitos contra povos originários e milhares de famílias atingidas por contaminação por agrotóxico.

Um dos objetivos do vídeo para além da divulgar a realidade da violência é também ser uma ferramenta para articular ações nos territórios. “O vídeo trás dados muito significativo e faz uma visão panorâmica desde 1500, quando o Brasil é ocupado por povos europeus. Nos coloca a reflexão do período de escravidão e destaca os últimos dez anos de violência no campo. Ele nos apresenta o contexto da violência histórica e estrutural e aponta saída que é a reforma agrária, a divisão equitativa das terras para quem precisa para trabalhar  e isso é a garantia do direito e modos de vida dos povos do campo”, analisou o  secretário executivo  da Campanha Contra Violência no Campo, Jardel Lopes. 



O vídeo foi realizado pela Campanha Contra a Violência no Campo, roteiro e produção de Cláudia Pereira, locução de Ana Maria Mello e Thiago Luca e a participação especial do ator João Signorelli. As imagens foram por meio de colaboração do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Rede TVT e Verbo Filmes. Edição e finalização: produtora Verbo Filmes. 

Em dois anos de existência, a Campanha concentrou esforços na visibilidade dessas questões, no enraizamento junto às comunidades e na incidência política para a sociedade. Organizada por mais de 70 entidades da sociedade civil, movimentos populares e pastorais sociais, a Campanha nasceu em defesa dos povos que lutam pelo acesso à terra e pelo direito de ser e existir, unindo esforços para enfrentar a injustiça, a opressão e a desumanidade contra aqueles que resistem em defesa de suas terras e territórios. O vídeo institucional está disponível no YouTube e nas redes sociais da Campanha.




#Violênciacontraospovos

#DireitosHumanos