No segundo dia da II Tenda Multiétnica durante o 19ª Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), que acontece na cidade de Goiás (GO) de 20 a 25 de junho, povos indígenas ressaltaram sua luta pela garantia do território e, também, a violência que tem sofrido ao resistirem à imposição do modelo capitalista de produção no campo. Indígenas gamela relataram a recente tentativa de massacre que sofreram em Viana, no Maranhão.
(Cristiane Passos – Assessoria de Comunicação CPT Nacional / Fotos: Thomas Bauer – CPT Bahia)
Com mediação do cineasta terena Gilmar Galache, do Mato Grosso do Sul, a Roda de Conversa “Resistência e Territorialidade indígena no Brasil”, trouxe as histórias de luta dos povos indígenas para garantirem seus direitos e seus territórios.
Anastácio Peralta, do povo Guarani Kaiowá, destacou a luta de seus antepassados e de seu povo que ainda resiste. “Nesses 500 anos não conseguiram nos derrotar, agora que não vão conseguir. Apesar do momento difícil que estamos vivendo com esse governo provisório, vamos continuar resistindo”. O indígena destacou ainda a insistência do modelo capitalista de impor seu modelo sobre os povos originários. “Na sociedade capitalista roça virou sofrimento, e roça não é sofrimento, é lugar de lazer, é caminho de Deus. O colonizador trabalha 12 horas por dia, come mal, muitos não tem família, e mesmo ganhando muito dinheiro, eles sofrem mais. A única coisa que ele tem é o dinheiro. Mas nós não, não queremos viver assim. Temos que pensar no bem-viver e o bem-viver é ser feliz. Esse que é o nosso conceito kaiowá, ser alegre, ser feliz”.
Apesar das constantes investidas de fazendeiros e grandes empresas contra o povo Guarani Kaiowá, Peralta ressalta a esperança que move seu povo a continuar a lutar. “O povo Guarani Kaiowá é de reza, é um povo religioso, a esperança é um dia voltar para a Terra Sem Males. Terra para nós não é negócio, a terra é nossa mãe. Para o branco a terra é negócio, por isso ele queima e envenena ela, nós não fazemos isso”.
“A maior violência que vivemos é a negação do direito de existir”
Dilma Gamela falou aos presentes sobre o processo de rearticulação de seu povo, de sua identidade e, consequentemente, de seus territórios. “Em 2010 o povo Gamela começou a se organizar novamente. Em 2014 iniciamos a retomada de nossos territórios. A partir daí passamos a ser mais perseguidos e a sofrer mais violência. Estamos no norte do Maranhão, em Viana, Matinha e Penalva”. Inaldo Gamela foi uma das vítimas do ataque mais recente que o povo Gamela sofreu. No dia 30 de abril, em Viana, os indígenas foram atacados por populares insuflados por ruralistas e políticos, com envolvimento da Polícia Militar, conforme registro de uma viatura na ação. A ação violenta resultou em 22 feridos, sendo que dois tiveram as mãos decepadas.
Para Inaldo, “a maior violência que vivemos é a negação do direito de existir. A violência física que chega ao extremo de matar é consequência disso”. O indígena destacou que a resistência “é um sentimento de energia ancestral que nos faz continuar”. Sobre seus territórios, o Gamela explicou que “nos últimos 40 anos foi um processo pesado de grilagem de terras e nós fomos perdendo nossas terras. Muitas vezes tentam colocar indígenas contra trabalhadores rurais, como se houvesse uma disputa entre nós, mas não é verdade, sempre houve aliança entre esses povos”.
Rosana Diniz, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) do Maranhão, destacou a violência e perseguição que os povos e as entidades que os acompanham têm sofrido. “Nos preocupa o acirramento da violência. O CIMI, como na década de 1980, em que foi duramente perseguido, volta agora com a tentativa de criminalização com as constantes CPI’s contra ele ou contra seus representantes. Estamos com os telefones grampeados, recebendo ameaças. Precisamos principalmente neste momento fortalecer nossas alianças, traçando estratégias de fortalecimento para que os povos permaneçam no território”.
Cosme Xavante, do Território Indígena (TI) de Marãiwatsédé, falou sobre a luta do povo Xavante para se manter e garantir o direito sobre seu território. O povo xavante sofreu durante anos com invasores em suas terras. Recentemente os invasores foram retirados e agora se inicia outra luta pela garantia do território livre, inclusive, de agrotóxicos, usados indiscriminadamente nos arredores da TI.
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