Passados 4 anos do crime ambiental de 2019, pescadores e
pescadoras artesanais ainda não foram reparados. Falta de respostas reforça
necessidade de interromper exploração do petróleo em prol de uma transição
energética justa e popular - é preciso proteger a Amazônia da ameaça
petrolífera
Pescadores e pescadoras artesanais de 12 estados brasileiros
estão em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília (DF), nessa manhã do dia 29
de agosto, fazendo um ato político para rememorar os 4 anos do Crime do
Petróleo e reivindicar por reparação. Em agosto de 2019, apareceram as
primeiras manchas de petróleo no litoral sul da Paraíba que se estenderam por
mais 10 estados, contaminando todo o litoral do nordeste, além dos estados do
Espírito Santo e Rio de Janeiro. Mais de 1000 localidades foram atingidas na
ocasião. Os pescadores e pescadoras artesanais foram algumas das principais
vítimas do maior derramamento de petróleo já ocorrido no Atlântico Sul. A
tragédia é considerada o maior crime ambiental em extensão, que já aconteceu no
Brasil.
O ato, organizado pela Campanha Mar de Luta, coletivo formado
por pescadores e pescadoras artesanais e por organizações ambientalistas e de
Direitos Humanos, reivindica a recuperação ambiental das áreas atingidas,
reparação socioeconômica para as comunidades pesqueiras impactadas e pesquisas
científicas que averiguem os impactos do derramamento no meio ambiente e na
saúde dos pescadores e pescadoras artesanais, já que muitos passaram por um
processo de intoxicação durante a retirada do petróleo das praias, estuários e
manguezais. Em muitas situações, os pescadores retiraram o material sem a
utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), que demoraram de
serem distribuídos para os voluntários.
Outro problema relatado pelas comunidades pesqueiras foram
os graves impactos socioeconômicos enfrentados por elas. “O problema da fome
foi grande porque não tínhamos como pescar, nem tão pouco como vender e até
hoje a gente ver que o impacto que causou foi muito grande, porque os mariscos
mortos ainda continuam aparecendo, ostras também. Houve a diminuição dos peixes,
dos camarões e não teve nenhum reparo ambiental, não teve pesquisa. Ainda por
cima, o benefício que houve do governo federal, poucos receberam. Até hoje
estamos sofrendo”, relata a pescadora de Itapissuma (PE), Joana Mousinho, que
integra a Campanha Mar de Luta. Manchas de petróleo também costumam reaparecer
na costa quando há mudança de maré.
Os graves impactos enfrentados pelas comunidades pesqueiras
com o derramamento de 2019 e com a exploração de petróleo nas plataformas
marítimas nas regiões do pré-sal, que ocasionam constantes vazamentos no mar e
que contaminam as regiões de mangue, faz com que a Campanha Mar de Luta se
posicione contra a abertura de novos poços de petróleo, incluindo a exploração
de petróleo na foz do rio Amazonas. “Nós estamos nos sentindo ameaçados diante
de todos esses retrocessos que têm acontecido em outros estados do Brasil, em
relação à essa exploração de petróleo. De tudo que houve, de toda perda, de
toda fome, de tudo que eles matam”, lamenta a pescadora e integrante da Campanha
Mar de Luta, Delaine Rocha, de Bailique, distrito de Macapá (AP) localizado na
região ameaçada pela exploração de petróleo da foz do Amazonas. “Só de enfrentar essas simulações e pesquisas
em relação ao petróleo na nossa foz, nos traz essa preocupação de que tudo isso
possa acontecer com a gente, causando esses mesmos desastres”, completa.
Para a Campanha Mar de Luta, a não perfuração de novos poços
de petróleo permite que seja iniciada uma transição energética justa e popular,
que é urgente devido a emergência climática que vivemos.
Sobre a Campanha Mar de Luta
A Campanha “Mar de Luta: Justiça social para os povos das
águas atingidos pelo petróleo” surgiu em 2020 como uma iniciativa de movimentos
sociais de pescadores e pescadoras artesanais e de organizações ligadas às
temáticas de direitos humanos e socioambientais, como o Conselho Pastoral dos
Pescadores, o Movimento de Pescadores e Pescadoras artesanais (MPP),
Articulação Nacional das Pescadoras (ANP), em conjunto com outras organizações,
além de pesquisadores e ativistas.
O objetivo da referida Campanha é pautar os impactos às
comunidades pesqueiras afetadas pelo derramamento de petróleo que atingiu o
litoral do Nordeste e de parte do Sudeste do país em 2019, além de reivindicar
respostas e reparações do Estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário