Comunidade denuncia que grileiros invadiram com maquinários pesados destruíram a mata nativa. |
Desde
o mês de janeiro invasores ameaçam expulsar e matar moradores da comunidade
quilombola do território de Sudário que denunciam a violência contra os povos e
o desmatamento da mata nativa.
Por
Cláudia Pereira | APC e colaboração da comunicação do MOQUIBOM
O
Quilombo Pacuã que integra o Território Sudário, município de Pinheiro, (MA)
denuncia que desde o mês de janeiro sofrem constantes ataques violentos sem o
apoio efetivo da segurança pública. Na primeira semana de fevereiro a
comunidade recebeu represálias por realizar reunião dentro do território onde
foram ameaçados de morte pelos invasores. Há quatro anos o território Sudário
enfrenta assédio, invasões e desmatamento de invasores estelionatários que
vendem as terras para várias pessoas, entre elas o empresário Paulo Roberto
Lopes Cavalcante, conhecido por “Paulo Guedes”.
O tal empresário tem intimidado os moradores da comunidade de Pacuã e
vem derrubando a mata nativa e destruindo as nascentes. Apesar de vários registros
de boletins de ocorrência, a comunidade relata que o empresário ameaçou de
forma direta dois integrantes do quilombo.
No
início de janeiro os grileiros invadiram a comunidade com máquinas pesadas e
escoltadas por homens fortemente armados. Nos últimos meses do ano de 2023,
após os constantes ataques a comunidade decidiu acampar próximo a área mais
ameaçada. O território, que é centenário, está sofrendo fortes ameaças por
parte de grileiros, que estão determinados a desmatar a floresta nativa, as
nascentes de água que são importantes e tentam expulsar os povos que preservam
o bioma local. O “empresário” Paulo Guedes, alega ser proprietário das terras e
diz que a comunidade o impede de entrar e ameaça matar os moradores.
Recentemente o tal empresário ameaçou de forma direta a vida de Edmilson e
Raimundo que integram a comunidade. Os relatos confirmam que “Paulo Guedes”
ameaçou a todos caso continuassem se reunindo na comunidade. Além da repressão
contra a comunidade, ameaçou dizendo aos moradores que quer as cabeças das
lideranças.
Nascentes foram destruídas e outras, além que sofrer as consequências do desmatamento, corre o mesmo risco. Foto: acervo da comunidade
A
comunidade registrou vários boletins de ocorrência e foi determinado que a
polícia faria rondas frequentes no quilombo de forma ostensiva para garantir a
segurança, mas desde o dia 30 de janeiro a ronda policial não é realizada. A
comunidade teme pela segurança no território, sobretudo a comunidade de Pacuã
que relata que a presença dos grileiros é diária, mesmo com a presença da
polícia.
Lideranças
fizeram registros de imagens para mapear a área devastada e estimam que mais de
100 hectares de mata já foram destruídos, principalmente as nascentes.
A comunidade estima que mais de 100 hectares de mata nativa foi destruída. – Foto: acervo da comunidade. |
“Se as autoridades competentes não
fizerem nada, tudo e todos vão perder, inclusive aqueles que estão destruindo”
“Verificamos
que uma grande extensão da mata foi derrubada. O processo deles é de
destruição, eles derrubam a mata, depois eles ateiam fogo e passam as máquinas
para arrancar tudo. Se as autoridades competentes não fizerem nada, tudo e
todos vão perder, inclusive aqueles que estão destruindo”. Denunciou um dos
moradores da comunidade.
A
comunidade entrou com ação contra o empresário Paulo Roberto Lopes Cavalcante,
para viabilizar reintegração de posse. O processo que está em andamento possui
uma liminar favorável que reconhece os direitos das comunidades quilombolas de
usufruto do território tradicional. Até o momento não houve cumprimento oficial
ao invasor que continua atacando o modo de vida das comunidades e destruindo o
bioma. A comunidade que integra o território quilombola Sudário, atua de forma
coletiva com a articulação do MOQUIBOM, Movimento Quilombola do estado do
Maranhão e tem o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT- MA). Toda essa
violência que o território sofre é pela cobiça de grileiros da região que
querem a área para plantar soja.
“Aumento da violência no campo, onde o
poder público e judiciário fingem não ver”
“No
Maranhão, vivemos uma situação lamentável, com o aumento da violência no campo,
onde o poder público e judiciário fingem não ver. E esse aumento da violência
no campo tem se dado principalmente com as tentativas de desmatamento e invasão
dos territórios”. Disse uma das lideranças.
Quando
escreveu a sua tese de doutorado, Itamar Vieira Jr., vencedor do prêmio Jabuti
de literatura, destacou os conceitos que nortearam sua escrita: terra, moradia,
trabalho, luta, sofrimento e movimento. Ao que parece, o sofrimento talvez seja
na atualidade a expressão que mais se aproxima da realidade do território
tradicional Quilombola Sudário, localizado no município de Pinheiro, Baixada
Maranhense, abordado na tese do autor.
Os
povos do campo, das florestas e das águas do estado do Maranhão têm sofrido com
os conflitos de terra nos últimos anos. Dados da Comissão Pastoral da Terra,
aponta que o Maranhão é o terceiro estado do país com maior número de conflitos
agrários, entre os anos de 2020 e 2023 dez lideranças quilombolas foram
assassinadas. Os conflitos de terra no estado aumentaram consideravelmente nos
últimos meses após a Lei de Nº 12.169/2023, ser sancionada pelo governador
Carlos Brandão, em dezembro de 2023. A lei que foi aprovada em assembleia às
pressas nas vésperas das festas de fim de ano pelos deputados ruralistas, foi
sancionada no mesmo dia pelo governador. Além de ampliar os conflitos, a lei
favorece o mercado imobiliário, modifica a regularização fundiária das terras
ocupadas por povos e comunidades tradicionais.
Área do território quilombola devastado por grileiros. – Foto: acervo |
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