Encontro virtual debateu medidas que podem contribuir com o
Grupo de Trabalho Técnico Sales Pimenta, que irá propor ações e políticas de
segurança para reformulação do PPDDH
Por comunicação da CCVC
A Plenária Nacional da Campanha
contra a Violência no Campo, realizada na última segunda-feira, 18, reuniu as
organizações parceiras a fim de discutir propostas para o Plano Nacional de
Proteção a Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas
(PPDDH), em contribuição com o Grupo de Trabalho Técnico (GTT) Sales Pimenta,
instituído pelo Ministério
dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), com o objetivo central de propor a
criação de políticas de proteção para o Programa.
A Plenária, que ocorre três vezes ao
ano, tem como objetivo alinhar ações, dar encaminhamento e partilhar sobre a
incidência da Campanha nos territórios. Na segunda-feira, porém, a proposta foi
mais específica: discutir e propor sobre
estratégias em relação à reconstrução do programa de defensores e defensoras de
direitos humanos que existe atualmente.
O coordenador-geral do PPDDH no
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Igor Martini, afirmou
que, em 2023, a sociedade civil retomou um diálogo com o governo federal ao
criar o GTT Sales Pimenta. “Com a decisão da Corte Interamericana, de outubro
de 2022, o grupo de trabalho passa a organizar consulta com a sociedade civil”.
Martini também informou que o programa recebeu mais de 50 propostas de
atividades. “As propostas serão sistematizadas por consultores”, garantiu o
coordenador-geral do programa no evento desta segunda.
Durante o evento, para a discussão
do GTT, quatro eixos temáticos foram estabelecidos, sendo eles o Eixo 1: Fortalecimento dos/as defensores/as
e da proteção popular; Eixo 2: Institucionalidade protetiva; Eixo 3:
Investigação e Responsabilização; e Eixo 4: Medidas protetivas e de reparação.
Também foram apresentadas três perguntas orientadoras, específicas para cada
eixo, com objetivo de fazer um diagnóstico geral e pensar em propostas
relacionadas às problemáticas levantadas pelas organizações.
Presente no evento virtual, Paulo
César Carbonari, do Conselho Nacional de Direitos Humanos e professor de
filosofia no Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE), disse acreditar
que a primeira ação para fortalecimento de defensores/as e proteção popular é garantir o cuidado de uns com os outros,
autoproteção e proteção coletiva. Segundo ele, é necessário apostar e
fortalecer o trabalho de elaboração das denúncias de violações. “As denúncias
têm um grande peso político na luta por justiça e garantia de ferramentas para
proteção”, afirmou.
“A capacidade da sociedade civil e
das organizações de fazer incidência política e exigir a garantia dos direitos
humanos”, diagnosticou Carbonari ao debater como é possível promover a
autonomia e independência da atuação das pessoas defensoras de direitos
humanos, comunicadoras e ambientalistas, especialmente em comunidades
vulneráveis.
Antônio Veríssimo, liderança do povo
Apinajé, Aldeia Cocalinho, no Norte de Tocantins, acredita ser preciso
antecipar as várias formas de violência contra as comunidades. Para isso, deve-se conhecer o território e fortalecer
as redes internas de proteção, como as brigadas de incêndio e associações.
“Não se pode confiar na polícia e em
agentes do Estado, pois este é também violador de direitos dos povos, mas
devemos cobrar do Estado o reconhecimento dos direitos e fortalecimento dos
programas de proteção”, afirmou. “Temos que proteger nosso bem maior que é a
nossa vida e os nossos territórios, não podemos ficar o tempo todo
contabilizando vítimas, temos que garantir nossa segurança e autoproteção”,
concluiu.
Ao discutir quais medidas são
necessárias para qualificar e ampliar a presença e a implementação de Programas
Estaduais de Proteção, incluindo recursos financeiros, Ingrid Hrusa, do MDHC,
analisa que há dificuldades políticas
para acessar o Governo para implantar o programa. Segundo a advogada, é
preciso uma ação do Ministério para estabelecer diálogo com os governos dos
estados, principalmente, com aqueles em que não existe o programa. “Sem diálogo
efetivo com o Estado, não há política”, destaca.
“É preciso trabalhar na questão da
qualificação dos procedimentos do programa. O PPDDH é um programa novo, mas
possui a característica também de proteger o local para proteger a
possibilidade de militância. É necessário estabelecer procedimentos claros e
objetivos. Primeiro, estabelecer diálogo com os governos de estado onde não há
programa. Depois, aprimorar os procedimentos do programa”, propõe Hrusa.
Já no eixo de Investigação e
Responsabilização, uma das medidas pensadas para qualificar a apuração e
responsabilização dos crimes contra defensores e defensoras foi a construção de uma dinâmica para apuração e
responsabilização de crimes contra defensores e defensoras de direitos humanos.
Para isso, a federalização deste tipo de crime pode garantir que a investigação
fique mais distante e isenta dos interesses e forças locais.
“Indígenas estão em programas de
defensores e continuam sendo assassinados. É preciso uma dinâmica mais coletiva
para proteção, sem ter um ponto focal.
Sentimos que há produção vexatória que desqualifica aquela liderança e tenta
demonstrar que a liderança tem algo que tira a legitimidade dela. Quais órgãos
podem investigar? A intervenção tem que ser imediata”, exemplificou Matias
Rempel, da coordenação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
Ao debater maneiras eficazes para
identificar e implementar medidas protetivas e de reparação, Rafael Pimenta,
irmão de Gabriel Pimenta, advogado e defensor assassinado a quem o nome do GTT
presta homenagem, reforçou a importância
da denúncia para que a pessoa ameaçada não fique isolada. Ele propôs que,
para os advogados ameaçados, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) local tenha,
aproximadamente, 72h para comunicar a OAB estadual que deverá informar a
polícia federal. “Para as demais pessoas, é importante criar um protocolo para
que a denúncia seja feita para alguma organização, que encaminhe a denúncia à
PF e a todos os demais órgãos relevantes”, explicou Rafael.
Por fim, ao identificar quais as
responsabilidades do setor privado e dos empreendimentos, Renata Fortes, da
Articulação Agro é Fogo, lembrou do papel
da comunicação, na linha de frente, nesta questão. “Hoje em dia todas as
comunidades precisam de comunicadores locais. Eles preenchem um papel
fundamental no registro de provas sobre as violações, uma vez que estão toda
hora usando dispositivos de gravação, como celular e filmadoras. É importante
apoiar e fortalecer mais esses comunicadores e treiná-los para que saibam e
tenham condições de usar os materiais coletados para a produção de provas”,
exemplificou Renata.
Grupo de Trabalho Técnico Sales Pimenta
O GTT Sales Pimenta foi instituído
em 2023 com objetivo central de propor a criação de políticas de proteção para
os defensores de direitos humanos, comunicadores e ambientalistas. A atuação do
GTT tem como finalidade principal a elaboração de um plano nacional, com metas
ações, indicadores, responsáveis e prazos. Além de um anteprojeto de lei para
atualizar e melhorar o programa de proteção de defensores de direitos humanos
que existe atualmente.
O GTT leva o nome de Gabriel Sales Pimenta, advogado e
defensor de direitos humanos que foi assassinado, em 1982, por atuar na defesa
dos direitos dos trabalhadores rurais no Pará. Gabriel havia sido ameaçado de morte e solicitou a
proteção estatal, porém, foi brutalmente assassinado.
Em outubro de 2022, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro como
responsável pela violação dos direitos à proteção e à integridade da família de
Gabriel Sales Pimenta. Entre as determinações, estava a criação de um grupo de
trabalho para que o Estado brasileiro identifique as causas da impunidade, além
de medidas de reparação, tratamento psicológico aos familiares da vítima,
implementação de medidas de satisfação, garantia de não repetição e
indenizações compensatórias para a família.
Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos,
Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH)
O PPDDH foi criado, pelo Governo
Federal, em julho de 2019, O
Programa tem como objetivo oferecer proteção às defensoras e aos defensores de
direitos humanos, comunicadoras e comunicadores e ambientalistas que estejam em
situação de risco, vulnerabilidade ou sofrendo ameaças em decorrência de sua
atuação em defesa desses direitos.
Vinculada ao Ministério dos Direitos
Humanos e da Cidadania (MDHC, o programa "articula medidas para a proteção
de pessoas ameaçadas em decorrência de sua atuação na defesa dos direitos
humanos".
Atualmente, o procedimento de
ingresso no PPDDH possui as seguintes etapas: exame de admissibilidade e
análise do pedido (fases desempenhadas pelas equipes técnicas); e apreciação do
caso pelo Conselho Deliberativo. São requisitos para inclusão de casos: ser
defensor/a de direitos humanos; estar em situação de risco e ameaça; existir
nexo de causalidade entre a ameaça sofrida e a defesa de direitos humanos
realizada.
Ameaças de morte
O caderno de conflitos no campo de
2022, organizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) aponta que houve 206 ameaças de morte no campo, um
aumento de 43,05% em relação ao ano anterior. Na série histórica de
2013-2022 (10 anos), registou-se que 28% dos assassinatos foram precedidos de
ameaças anteriores.
Para Andréia Silvério, da
coordenação nacional da CPT e da Coordenação da Campanha Contra a Violência no
Campo, “a grande maioria dos defensores e defensoras de direitos humanos
ameaçados e inseridos no programa de proteção no Brasil, seja em programa federal
ou estadual, são defensores relacionados à luta pela terra, território e defesa
do meio ambiente. É exatamente esse público com o qual a Campanha contra a
Violência no Campo trabalha. Trabalhamos com atendimento, com fortalecimento da
luta das comunidades do campo, das águas e das florestas. São essas as
comunidades, as lideranças que estão sofrendo com as ameaças. Então, para nós
foi um momento extremamente marcante realizar essa escuta da sociedade civil,
com o objetivo de fortalecer a atuação do GTT Sales Pimenta, que vai discutir,
ouvir a sociedade civil e propor para o governo federal um novo Plano Nacional
de Defensores e Defensoras de Direitos Humanos. O nosso objetivo com a
realização dessa atividade foi contribuir com o fortalecimento da atuação
dessas pessoas, defensoras e defensores de direitos humanos, e propor para que
essas pessoas possam atuar com segurança nos seus territórios”, concluiu
Silvério.
Para mais informações sobre a Campanha
Contra a Violência no Campo, entre em contato pelo email (contraviolencianocampo@gmail.com)
e acompanhe pelas redes sociais (IG: @contra_violencia_no_campo | FB: Campanha
Contra Violência no Campo)
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