sexta-feira, 14 de março de 2025

Cimi lança livro sobre povos isolados: direitos e riscos enfrentados pelos povos na América do Sul




Livro reúne estudos  e lista inédita de povos isolados, alertando para os riscos na defesa dos  seus direitos dos povos originários


Por Cláudia Pereira| APC


Com a presença dos povos Pataxó, Tupinambá e representantes da Articulação das Pastorais do Campo, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) lançou, na quinta-feira (13), o livro "Povos Indígenas Livres/Isolados na Amazônia e Grande Chaco", uma obra que reúne 29 artigos de especialistas e apresenta uma lista inédita com 119 registros de povos indígenas em isolamento voluntário no Brasil. A publicação também destaca a defesa dos direitos humanos desses povos, com base na legislação internacional da ONU.


O livro oferece uma análise aprofundada sobre a existência, os direitos e os riscos enfrentados pelos povos isolados na América do Sul, com foco especial na Amazônia e no Grande Chaco. A obra que foi organizada por por Guenter Francisco Loebens e Lino João de Oliveira Neves, apresenta uma lista independente de registros de povos indígenas em isolamento voluntário no Brasil. A iniciativa é da EAPIL/CIMI, com o apoio da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). A lista, que inclui informações de campo e dados da Funai, revela a presença de mais de cem povos isolados, sendo 118 na Amazônia e um fora da região.


A publicação surge em um momento crucial, em que a vida e o futuro dos povos indígenas livres estão cada vez mais ameaçados. Dom Ricardo Hoepers, Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), destacou a importância do livro para a luta por direitos e dignidade dos povos indígenas, ressaltando que a obra traz à luz questões frequentemente ignoradas. “Os autores nos trazem aqui o grande presente. Graças ao trabalho do Cimi e tantos outros grupos que são comprometidos com a causa indígena, nós sabemos, acreditamos que os invisibilizados são os prediletos do Senhor”, disse o secretário da CNBB que enalteceu a importância do lançamento. “Para além de ser um subsídio com informações preciosas para toda a sociedade conhecer, este livro é um tratado de fraternidade, é um tratado de amizade social, nos lembrar da importância do respeito por aqueles que mesmo não os vendo nós aprendemos com ele e conhecendo a sua história, podemos amá-los como irmãos, respeitando a sua dignidade”, disse dom Ricardo Hoepers, durante o lançamento.



A capa do livro ilustra uma a imagem do "indígena do buraco," que viveu na Terra Indígena Tanaru, em Rondônia, e faleceu em 2022. Ele é um símbolo de resistência, que optou pelo isolamento em vez de se submeter à violência e exploração da sociedade não indígena. Essa escolha reflete a luta desses povos pela liberdade e proteção contra a dominação. “É importante visibilizar a presença desses povos para que o Estado possa adotar as políticas adequadas à proteção dos seus territórios”, concluiu Guenter Francisco Loebens, um dos organizadores do documento. 


“É necessário respeitar os direitos humanos dos povos indígenas isolados. A ideia do livro é exatamente isso, mostrar que tem muita gente vivendo aí que a gente não sabe, não temos que procurar saber, temos que respeitá-los. No isolamento, povo livre, isolado, é isso. É alguém que já sofreu tanto que já falou: ‘não quero vocês perto de mim, não venha para mim, fica aí’. Os isolados estão falando isso para o Estado. Fica aí, vocês fazem mal. E esse livro quer dizer isso, vamos respeitar, respeitar a autonomia e autodeterminação. Esses povos sabem quem são e sabem o que eles querem ser”, concluiu Lino João de Oliveira Neves, visivelmente emocionado. 

Um dos capítulos do livro se posiciona firmemente em defesa da vida e dos territórios dos povos indígenas isolados, com base na legislação internacional sobre direitos humanos da ONU. O livro busca dar visibilidade às ameaças enfrentadas por esses povos, decorrentes de políticas desenvolvimentistas, e estimular ações de solidariedade e políticas públicas para a proteção de seus territórios. A publicação pretende ser uma ferramenta para organizações indígenas, entidades indigenistas, órgãos públicos e sociedade civil na defesa dos direitos dos povos isolados.


“Sobre as nossas temáticas, somos poucos escritores indígenas”, disse uma liderança indígena que expressou a alegria da possibilidade não só da leitura do livro, mas a importância da publicação para os povos originários, sobretudo para defender os povos isolados.  A publicação busca apresentar, atualizar e discutir aspectos relacionados a esses povos, com enfoque sul-americano.



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