
Lagoa que foi sustento para a comunidade de Gameleira- Imagem: Acervo APC

Quarta reportagem especial da série "Povos da Beira D’água", filme estreia no Dia Mundial do Meio Ambiente e retrata a resiliência e fé da comunidade diante da violação de direitos à vida e à natureza.
Por Cláudia Pereira| APC
Em celebração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de junho, estreia o documentário "Comunidade de Gameleira", que lança luz sobre a história de luta e resiliência da comunidade quilombola de Gameleira, localizada no norte de Minas Gerais. O filme, que integra a série de reportagens Povos da Beira D’água, é uma produção da Articulação das Pastorais do Campo(APC) e revela os desafios e as conquistas de um povo que luta pela preservação de seu território, suas águas sagradas e sua cultura.
Situada na região de Januária, Norte de Minas, a comunidade de Gameleira vivencia um contexto histórico de conflitos agrários e uma luta constante pela preservação ambiental, especialmente das nascentes e lagoas que deságuam do Rio São Francisco e que já foi fonte de vida e sustento para muitas famílias. O documentário expõe as origens ancestrais da comunidade, sua relação com o lugar e o ecossistema local, que hoje se encontra ameaçado pela expansão do agronegócio na região.
Narrado por lideranças e anciãos, o filme intercala os depoimentos sobre as dores e a trajetória da comunidade com imagens do festejo de Nossa Senhora de Fátima, padroeira local, ilustrando a profunda conexão entre a fé e a resistência que sustenta a luta do povo. Entre as conquistas celebradas está o reconhecimento como uma comunidade quilombola e a mobilização na busca de proteger o território, um marco que se tornou a "porta para o conhecimento de seus direitos", garantindo o acesso à formação sem renunciar à preservação de sua cultura ancestral.
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Lideranças narram a luta da comunidade - Foto: Cláudia Pereira |
Apesar dos poucos avanços, porém significativos a comunidade celebra a recente indicação para o cadastro de regularização de seu território pelo Estado. Contudo a comunidade ainda enfrenta graves violações de direitos. Muitas famílias carecem de acesso a serviços básicos como transporte, saúde, saneamento, escolas e internet.
O filme denuncia as constantes ameaças e a criminalização sofridas por esses povos, frequentemente acusados injustamente de crimes ambientais enquanto defendem seus territórios. São relatos que representam povos e comunidades tradicionais do Brasil que lutam pela construção e defesa do bem viver e da nossa “Casa Comum”.
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Velas - Festejo de Nossa Senhora de Fátima, padroeira da Comunidade - Foto: Cláudia Pereira |
O documentário da comunidade de Gameleira destaca a importância de registrar e perpetuar a história do quilombo para as próximas gerações. As palavras dos entrevistados transmitem uma mensagem de otimismo e recuperação, incentivando a não desistir da luta pelo direito de ser, existir, preservar e de utilizar suas terras para a produção agroecológica.
“No início, enfrentávamos o abandono e a falta de recursos básicos, como água e luz. Nos organizamos em associação comunitária em 1986 e, com o apoio das pastorais e da igreja, conseguimos acesso à luz elétrica. Em 2006, nossa identidade quilombola foi reconhecida, e iniciamos o processo para obter o certificado da Fundação Palmares, o que conquistamos em 2012. Isso nos permitiu reivindicar ainda mais nossos direitos”, relata Maria Paixão, uma das lideranças da comunidade de Gameleira.
A produção é fruto do apoio de organizações que acompanham de perto a realidade das comunidades, como o Conselho Pastoral de Pescadores (CPP MG), a Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG) e a Cáritas Brasileira (MG), que compõem a Articulação das Pastorais do Campo. A comunidade conta ainda com o suporte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDH MG) e da Defensoria Pública.
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