Por
Méle Dornelas / Comunicação da Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais
O dia de ontem só acabou hoje às 10h da manhã.
Em vigília ao lado de pescadores, indígenas, quilombolas, vazanteiros,
gerazeiros e apanhadoras de flores, dormimos e acordamos várias vezes ao som do
canto dos Povos, no chão da Câmara dos Deputados. Se por dentro havia canto, do
lado de fora quem dava o ritmo eram as armas.
Eduardo Cunha, usando mais uma
vez da irracionalidade, enviou o choque para ameaçar quem ali exercia o direito
a livre manifestação. Sem ar condicionado, sem luz e sem poder transitar pelo
prédio, Cunha queria desocupar a área à força. O receio da polícia entrar e
usar todo aparato próprio do horror não saia do meu medo. Via os idosos
resistindo e temia por eles. Temia por uma luta, e lembrava que essa violência
psicológica acontece todos os dias junto à violência física na rotina desses
povos e dessas comunidades. A imprensa foi impedida de entrar, mas deputados
aliados ingressaram e passaram a noite conosco, o que também garantiu nossa
segurança.
Mas o protagonismo vai para os
representantes das populações tradicionais que me ensinaram, mais uma vez, que
a luta pela vida não tem contratempo, "uma noite não é nada". O dia
amanheceu ainda ao som do Toré, das batucadas, das vozes silenciadas, mas que
ali gritavam fortes. Saímos e não sofremos violência, fomos vitoriosos. E teve
ciranda, ciranda na frente da Câmara, para selar que aquela casa deve ser do
povo.
Voltamos para nossos alojamentos, o descanso nos esperava. Antes de
entrar onde finalmente iria dormir, meu anel de Tucum escorregou, como que
quisesse mandar uma mensagem. Olhei pra ele, e as lágrimas que até então não
haviam derramado me encheram os olhos. Não só por esse dia, mas por toda uma
vida que a gente luta em preservar. Viva as populações tradicionais, viva os
guerreiros e as guerreiras que fazem essa luta!
"Melhor morrer na luta do que viver escravizado"
Parabéns aos que resistiram a essa noite! Fico muito feliz e emocionada pela conquista! As vitórias devem ser compartilhadas!
ResponderExcluirVamos continuar resistindo e lutando pelos direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais!!!!