Neste dia 08 de Junho de 2016, a Comunidade quilombola pesqueira/vazanteira de Caraíbas, no município de Pedras de Maria da Cruz/MG, inicia um mutirão reabrindo sua estrada tradicional no trecho que se encontra em poder da fazenda Pioneira e Boa Vista, há quase 10 anos.
A comunidade vem sendo violentada no seu direito de ir e vir durante todo este tempo. O acesso da comunidade ao meio urbano se limita aos singelos barcos pelo rio São Francisco, o que vem ficando mais difícil com os longos períodos de estiagem – há ocasiões que simplesmente torna-se inviável, sobretudo para os casos de emergências.
O caso esteve na promotoria da comarca de Januária em 2008 e foi arquivado em 2012 favorecendo os fazendeiros. Desde 2010 o mesmo caso se encontra na Procuradoria Federal de Montes Claros, acumulando uma série de denúncias que gerou uma audiência pública onde se firmou o prazo de 30 dias pra solução do problema. Dias depois, o gerente da fazenda Pioneira e Boa Vista assassinou o Cleomar Rodrigues que tinha um histórico na luta pela terra na região e na abertura da referida estrada. No mesmo dia o assassino também esfaqueou um pescador numa lagoa situada nas mediações da estrada. As mesmas denúncias relacionadas foram encaminhadas à SPU-MG (Superintendência do Patrimônio da União), uma vez que tal situação ocorre em território de comunidades tradicionais, em área de domínio da União, às margens do rio São Francisco.
A comunidade tradicional de Caraíbas comunica à sociedade seu cansaço de longos anos de burocracias e constrangimentos junto aos diversos órgãos do Estado, com duras perdas, no processo educacional dos seus filhos, na sua condição de dignidade humana, inclusive com perdas de vidas graças à negligencia das pessoas e instâncias competentes.
As crianças já ficaram até 60 dias sem frequentar a escola porque a lancha escolar costuma quebrar e a prefeitura custa a consertá-la. Mesmo com o funcionamento normal, os pais reclamam que, seus meninos chegam cansados e desmotivados nas escolas devido à falta de estrada para circulação de um carro. Crianças de 04 anos de idade levantam às 05hs da manhã para pegar a lancha sendo que o trajeto pela estrada se pode fazer em 20 minutos.
Mas, as situações de emergência sofridas quanto a assistência à saúde foram as que mais impulsionaram a comunidade à ação de abrir a estrada. A circulação por um carreiro forçado na devida estrada pelos moradores se dá via moto. O transporte urgente com doentes é desumano. Crianças, adultos e idosos são carregados de moto, entre moitas entrelaçadas e buracos. Muitas vezes, na escuridão da noite, o doente carregado vai “prensado” entre o piloto e um ajudante segurando-o por trás. Em maio passado, faleceu um pai de família na comunidade e os demais moradores avaliam que a dificuldade de acesso ao hospital o levou a óbito. Por isso temem que ocorra o mesmo com outras pessoas. A comunidade tem várias mulheres grávidas, portadores de doença de Chagas em fase delicada entre outras situações delicadas.
A comunidade é vítima dos fazendeiros na região desde a década de 1970, com o processo de expulsão do seu território e fechamento de suas estradas. Desde essa época, vem sofrendo criminalização diante de suas lutas por vida e por direitos. Agora, a mesma comunidade exprime que: “Extrapolou-se todos os limites! Não tem mais como esperar pelo tempo dos órgãos do Estado. O direito de viver pertence a todos!”.
Solicitamos a força dos órgãos do Estado em favor da existência das famílias de Caraíbas!
NO RIO E NO MAR – PESCADORES NA LUTA!
NOS AÇUDES E BARRAGENS – PESCANDO LIBERDADE!
HIDRO NEGÓCIO – RESISTIR!
CERCAS NAS ÁGUAS – DERRUBAR!
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