Por Ingrid Campos | Assessora de Comunicação do CPP
Para uma plateia lotada de jovens negras, a filósofa e ativista estadunidense, Angela Davis,
pronunciou apoio à comunidade quilombola Rio dos Macacos, na conferência realizada na última terça-feira (25/07), na reitoria da Universidade Federal da Bahia, em Salvador (BA).
Angela Davis na UFBA (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) |
pronunciou apoio à comunidade quilombola Rio dos Macacos, na conferência realizada na última terça-feira (25/07), na reitoria da Universidade Federal da Bahia, em Salvador (BA).
A comunidade quilombola Rio dos Macacos, localizada em Simões Filho (BA), há anos sofre com a violência praticada pela Marinha do Brasil, e tem como mais recente episódio dessa luta, a tentativa de construção de um muro na comunidade, que caso seja realizado, tirará qualquer acesso dos moradores à água, que em sua maioria são pescadores e agricultores.
Na sua fala, Davis, que é um dos nomes mais importantes do mundo na luta contra o racismo e o atual modelo do sistema carcerário, defendeu a importância da comunidade Rio dos Macacos ter direito a água e conectou a luta do quilombo com outras lutas que têm acontecido mundialmente dentro dessa mesma temática. Davis ainda enfatizou a importância de manifestar solidariedade à essas causas. “Eu tenho aqui uma carta da comunidade Rio dos Macacos reivindicando os seus direitos humanos para ter acesso à terra e à água. Mas o que eu quero dizer é que a luta que está ocorrendo dentro dessa comunidade está ligada com as reivindicações para proteção da água em populações indígenas, como os Sioux da reserva Standing Rock, em Dakota do Norte (EUA), que reclamam da passagem de dutos de petróleo por seus territórios. Vocês devem estar familiarizados com os esforços que ocorrem em Flint, Michigan (EUA), para expor o envenenamento da água nas comunidades negras. Essa luta está ligada também com as lutas das comunidades palestinas para defenderem os seus reservatórios de água, que são constantemente alvos das forças militares de Israel. Então somente através da solidariedade e da luta, nós poderemos preservar o nosso acesso a água”, defende Davis.
Audiência discute violência sofrida por quilombola
A defesa de Davis ganha contornos especiais porque as violências sofridas pelos moradores do quilombo Rio dos Macacos seguem impunes e invisibilizadas. No mesmo dia da conferência de Davis (25/07), houve pela manhã, no Fórum Ruy Barbosa de Salvador, na 1ª Vara do Juizado Especial Criminal, uma audiência de Conciliação sobre o caso das agressões sofridas pelo jovem da comunidade, Evanildo Souza dos Santos.
No dia 1 de agosto de 2015, quando Evanildo ainda tinha 17 anos, três militares da Marinha, Daniel Santos Souza, Edielson de Oliveira e Everaldo dos Santos, perseguiram e agrediram o jovem que teve o seu corpo completamente tomado por hematomas.
Na audiência ocorrida na terça-feira, os militares alegaram que os danos físicos sofridos pelo rapaz não foram em virtude de espancamento, mas devido a queda de um muro de três metros de altura. Diante das alegações caluniosas dos militares, o jovem manifestou interesse de prosseguir com a ação, que terá marcada, em breve, a primeira audiência de instrução.
“O que a gente mais quer é que tenha justiça, porque se fosse Evanildo o responsável, ele já estaria morto, na cadeia. Porque são os militares que agridem e espancam e ameaçam de morte, aí não acontece nada. Várias violências já aconteceram dentro da comunidade e até hoje a gente não vê justiça sendo feita, então a gente espera que tenha justiça. Não só em relação à violência contra Evanildo, mas também em relação às outras violências contra jovens, adolescentes, crianças e idosos da nossa comunidade. Mas não só da comunidade da gente, mas como em outras comunidades quilombolas que estão sendo agredidas e mortas. O racismo é muito pesado contra nós”, defende Rosemeire Silva, liderança de Rio dos Macacos.
Uma luta necessária e urgente.
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