“Nós vamos
continuar nos desafiando, nos reinventando diante a tudo que está sendo
colocado ao nosso povo, porque nós povos originários construímos o viver todos
os dias”.
Por Assessoria de comunicação da Articulação das Pastorais do Campo
Lideranças das comunidades de todo país estiveram reunidos
virtualmente nos dias 17 e 18 de fevereiro no IV Encontro da Articulação de
Povos e Comunidades Tradicionais (APCT) para fortalecer as articulações
nacionais de povos e comunidades tradicionais. Inspirados em Fátima Barros,
liderança quilombola da comunidade Ilha de São Vicente, Araguatins, (TO) vítima
da Covid-19 que faleceu em 06 de março de 2021, os participantes reanimaram a
luta com o lema “Esperançar com nossos Corpos-territórios, Resistência, Memória
e Ancestralidade”. A equipe, que coordenou o primeiro dia de encontro, destacou
a ancestralidade de Fátima Barros como elemento de força para a caminhada. Mais
de 60 pessoas partilharam de místicas, reflexões e debates em referência ao
processo da luta atual das comunidades.
“Com os pés no chão continuaremos resistindo”, disse um dos
participantes, ao partilhar a memória do encontro da coordenação da APCT
realizado em Luziânia (GO), em 2021. Houve um resgate ao debate referente ao
processo conjuntural social e político vivenciado nas comunidades para retomar
as temáticas do ano de 2022. Após os trabalhos de grupo, os participantes
apresentaram suas reflexões sobre o “esperançar dos caminhos” dos povos e
comunidades tradicionais.
As comunidades refletiram que além da luta por Terra e
Território, estes tempos possuem mais um elemento, que desafia a permanência
das comunidades e que não chegou pela vontade dos povos, mas sim pelas
inconsequências e ações do ser humano contra a natureza e o avanço do capital:
o coronavírus. Com a pandemia, as comunidades se reinventaram para lutar contra
ameaças, violência e perdas de direitos. Não bastasse tudo isso, a fome é uma
presença constante nas comunidades, principalmente com as consequências
climáticas no país.
O último dia de encontro teve a participação de Dom José
Valdecir Santos, bispo da diocese de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para a Ação Social Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que
partilhou a nota de repúdio em defesa da vida e dos territórios dos quilombolas
de Cedro, Flexeiras e Santo Antônio, em Arari (MA). A nota aborda o aumento dos
casos de mortes violentas no campo e solicita aos poderes públicos a atuação de
urgência para que possa fazer valer os direitos das pessoas que moram nas
comunidades.
“Precisamos estar solidários com as comunidades e com todos
que sofrem perseguições, e é muito importante esta manifestação de todos,
porque essa luta é de todos nós”, afirmou Dom Valdecir.
Na conclusão dos encontros, as comunidades afirmaram que a
unidade na luta, a resistência, é o Esperançar para caminhar sem esquecer o
sagrado. As lideranças enfatizaram a importância e presença da juventude e,
para que haja um melhor trabalho de formação, é preciso usar os meios digitais:
a comunicação como ferramenta, sobretudo para formação política.
As duas manhãs de encontro contribuíram para traçar caminhos
nas comunidades e, então, encontrar as resoluções dos problemas existentes, a
fim de garantir direitos e contemplar as urgências dos territórios mais
afetados.
“Nós vamos continuar nos desafiando, nos reinventando diante
de tudo o que está sendo colocado ao nosso povo, porque nós, povos originários,
construímos o viver todos os dias”, disse Eliete Paraguassu.
E, por fim, sem medo de ser feliz, os participantes
concluíram o encontro cantando a oração de São Francisco.
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