quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Encontro de Povos e Comunidades Tradicionais aponta a luta conjunta como caminho para a permanência dos povos nos seus territórios

 

“Nós vamos continuar nos desafiando, nos reinventando diante a tudo que está sendo colocado ao nosso povo, porque nós povos originários construímos o viver todos os dias”.


Em novembro de 2021, lideranças quilombolas, indígenas, quebradeiras de coco e pescadores se reuniram em mais um Encontro da Articulação de Povos e Comunidades Tradicionais. Foi a primeira vez (presencial) desde o começo da pandemia. Foto: Conselho Pastoral dos Pescadores e das Pescadoras


Por  Assessoria de comunicação da Articulação das Pastorais do Campo

 

Lideranças das comunidades de todo país estiveram reunidos virtualmente nos dias 17 e 18 de fevereiro no IV Encontro da Articulação de Povos e Comunidades Tradicionais (APCT) para fortalecer as articulações nacionais de povos e comunidades tradicionais. Inspirados em Fátima Barros, liderança quilombola da comunidade Ilha de São Vicente, Araguatins, (TO) vítima da Covid-19 que faleceu em 06 de março de 2021, os participantes reanimaram a luta com o lema “Esperançar com nossos Corpos-territórios, Resistência, Memória e Ancestralidade”. A equipe, que coordenou o primeiro dia de encontro, destacou a ancestralidade de Fátima Barros como elemento de força para a caminhada. Mais de 60 pessoas partilharam de místicas, reflexões e debates em referência ao processo da luta atual das comunidades. 

“Com os pés no chão continuaremos resistindo”, disse um dos participantes, ao partilhar a memória do encontro da coordenação da APCT realizado em Luziânia (GO), em 2021. Houve um resgate ao debate referente ao processo conjuntural social e político vivenciado nas comunidades para retomar as temáticas do ano de 2022. Após os trabalhos de grupo, os participantes apresentaram suas reflexões sobre o “esperançar dos caminhos” dos povos e comunidades tradicionais.

As comunidades refletiram que além da luta por Terra e Território, estes tempos possuem mais um elemento, que desafia a permanência das comunidades e que não chegou pela vontade dos povos, mas sim pelas inconsequências e ações do ser humano contra a natureza e o avanço do capital: o coronavírus. Com a pandemia, as comunidades se reinventaram para lutar contra ameaças, violência e perdas de direitos. Não bastasse tudo isso, a fome é uma presença constante nas comunidades, principalmente com as consequências climáticas no país.

O último dia de encontro teve a participação de Dom José Valdecir Santos, bispo da diocese de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que partilhou a nota de repúdio em defesa da vida e dos territórios dos quilombolas de Cedro, Flexeiras e Santo Antônio, em Arari (MA). A nota aborda o aumento dos casos de mortes violentas no campo e solicita aos poderes públicos a atuação de urgência para que possa fazer valer os direitos das pessoas que moram nas comunidades.

“Precisamos estar solidários com as comunidades e com todos que sofrem perseguições, e é muito importante esta manifestação de todos, porque essa luta é de todos nós”, afirmou Dom Valdecir.



III Encontro Nacional da Articulação das Pastorais do Campo, no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO). Foto: Mário Manzi/CPT


Na conclusão dos encontros, as comunidades afirmaram que a unidade na luta, a resistência, é o Esperançar para caminhar sem esquecer o sagrado. As lideranças enfatizaram a importância e presença da juventude e, para que haja um melhor trabalho de formação, é preciso usar os meios digitais: a comunicação como ferramenta, sobretudo para formação política.

As duas manhãs de encontro contribuíram para traçar caminhos nas comunidades e, então, encontrar as resoluções dos problemas existentes, a fim de garantir direitos e contemplar as urgências dos territórios mais afetados.

“Nós vamos continuar nos desafiando, nos reinventando diante de tudo o que está sendo colocado ao nosso povo, porque nós, povos originários, construímos o viver todos os dias”, disse Eliete Paraguassu.

E, por fim, sem medo de ser feliz, os participantes concluíram o encontro cantando a oração de São Francisco.

 

 

 

 

 

 


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