Por comunicação da CPP
Preocupados
com enchentes e estiagens extremas, além de projetos de lei que privatizam os
terrenos de marinha e ameaçam o seu modo de vida, pescadores e pescadoras
artesanais realizam manifestação na tarde de amanhã (21), em Brasília (DF)
Enchentes no sul do país e uma preocupante estiagem na região norte que tem gerado uma grande mortandade de peixes. Os pescadores e pescadoras artesanais têm sido as principais vítimas dos graves efeitos das mudanças climáticas que já podem ser percebidos em várias regiões do país. Afetados pelas intempéries da natureza e por projetos de lei, como a PEC 03/2022, que ameaça a privatização dos terrenos de marinhas e dessa forma coloca o modo de vida das comunidades pesqueiras em risco, cerca de 800 pescadores e pescadoras artesanais de 18 estados do país, estarão em Brasília (DF), entre os dias 20 e 24 de novembro para tratar dessas ameaças e para reivindicar políticas públicas para os povos das águas no 12º Grito da Pesca Artesanal.
Realizado
anualmente pelo Movimento dos Pescadores e Pescadoras artesanais (MPP), o Grito
da Pesca acontece durante 4 dias com uma intensa agenda de debates,
manifestação e incidência política, tendo a defesa da pesca artesanal como
principal bandeira. Na edição desse ano, o tema é “Por Justiça socioambiental,
soberania alimentar e pela Demarcação dos Territórios Pesqueiros”. A
preocupação com os eventos climáticos extremos que vem assolando o país nos
últimos anos e que tem causado fortes impactos na moradia e na soberania
alimentar das comunidades pesqueiras abre espaço para reivindicações ao Estado,
que incluem a necessidade de mitigação dos impactos ambientais, além de pensar
formas de evitar que as comunidades passem fome diante dos despejos forçados e
da estiagem.
Além da emergência climática, outras pautas
preocupam a classe. Uma grande manifestação, na Esplanada dos Ministérios, às
14hs do dia 21 de novembro, Dia Mundial da Pesca, está sendo organizada pelo
MPP. Na pauta está a PEC 03/2022, que coloca em risco a realização da atividade
pesqueira, já que facilita o processo de privatização dos Terrenos de Marinha e
pode intensificar a dificuldade de acesso a rios, lagos e costa, algo que já é
enfrentado pelos pescadores e pescadoras artesanais em vários lugares do Brasil.
Além da PEC, há também a preocupação com o Projeto
de Lei 11247/18, que trata da regulamentação da implantação das usinas eólicas
offshore (no mar) e que representa um enorme perigo para a pesca artesanal, já
que muitos dos projetos de implantação dos parques eólicos que estão em estudo
no estado do Ceará, por exemplo, coincidem com áreas de pesca já conhecidas e
usadas pelos pescadores e pescadoras artesanais.
“Temos como pautas principais a luta por direitos e
a garantia dos nossos territórios tradicionais pesqueiros”, explica Josana
Pinto, pescadora paraense que também é membro da coordenação nacional do MPP. A
garantia dos territórios tradicionais pesqueiros passa pela manutenção dos
terrenos de marinha como áreas públicas da União, mas também passa pela criação
de um dispositivo legal que reconheça e dê garantias para a manutenção dos
territórios pesqueiros.
Por isso, além de se pronunciarem contra vários
projetos de lei que ameaçam o seu modo de vida, os pescadores e pescadoras
artesanais pretendem fazer pressão para acelerar o processo de votação do
Projeto de Lei 131/2020, que tramita na Câmara dos Deputados desde 2020 e que
se encontra parado no momento. No dia 22 de novembro, dia da Revolta da
Chibata, insurreição que inspirou a criação da Grito da Pesca artesanal, uma
comissão formada por cerca de 200 pescadores e pescadoras irá ao Congresso
participar de uma Audiência que tem como tema “Território pesqueiro e o PL
131/2020”. “Nossa expectativa é que nós possamos avançar cada vez mais rumo às
nossas conquistas e um desses objetivo é acompanhar passo a passo a tramitação
do PL 131/2020 e somar forças para que seja aprovado pelo Congresso Nacional”,
afirma Josana Pinto.
Representantes do governo federal também
participarão das atividades do Grito da Pesca, que já tem a confirmação do
Ministro da Pesca e Aquicultura (MPA), André de Paula. A proposta do MPP é
apresentar as suas reivindicações para diferentes setores do Estado. “Podemos
ressaltar que para o MPP, a presença desses ministérios é para colaborar na
nossa luta por justiça socioambiental, visando construir políticas públicas
para a pesca artesanal através do diálogo”, explica.
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