Participantes da conferência livre da SPM | Foto: SPM |
Encontro em formato híbrido indicou
propostas para fortalecimento das políticas públicas para migrantes e
refugiados que serão debatidas na COMIGRAR
Por Cláudia
Pereira | APC
Foram
mais de 40 janelas em uma tela de computador e centenas de pessoas de várias
nacionalidades reunidas nas regiões do Brasil. Momento de escuta, escolhas de
representações e engajamento na defesa de direitos para mulheres, homens e
crianças migrantes. Na tarde do dia (02), mais de 333 participantes divididos
em 14 polos participaram da Conferência Livre Nacional de Migração do Serviço
Pastoral do Migrante (SPM). O encontro em formato híbrido é parte do processo
de preparação para a 2ª Conferência Nacional de Migração, Refúgio e Apatridia -
COMIGRAR que acontecerá entre os dias 07 e 09 de junho em Foz do Iguaçu (PR).
Dom
João Aparecido Bergamasco, SAC presidente do Serviço Pastoral do Migrante
(SPM), iniciou a conferência com acolhida fraterna. “É momento para alargar a
nossa tenda, não para acolher mais gente, mas acolher a todos/as. Nosso
acolhimento deve sempre integrar, promover o sentimento para quem escolher um
lugar para viver, sinta-se protegido e que este lugar seja a sua casa, sua
pátria e sonho realizado. Juntos seguiremos na busca constante para que as
políticas públicas cheguem a todos e todas”. Disse dom João com entusiasmo por
mais uma vez o Brasil viver a experiência da COMIGRAR. A primeira conferência
foi realizada no ano de 2014 e o processo havia sido interrompido no último
governo.
A
Conferência Nacional de Migração tem o objetivo de colaborar para melhorar as
diretrizes de políticas públicas, sobretudo o acesso a direitos e serviços para
pessoas migrantes e refugiadas no Brasil. O momento da conferência da SPM foi
oportuno para escutas e denúncias das falhas nos sistemas de serviços públicos,
principalmente na área da saúde e processos de documentação migratória.
Conferência Livre da SPM reuniu mais de 300 pessoas |
“É momento para alargar a nossa tenda,
não para acolher mais gente, mas acolher a todos e todas as”
Para
debater as temáticas e reforçar o momento da COMIGRAR, participaram do
encontro, Roberto Portela vice coordenador do Comitê Estadual de políticas para
migrantes, Paulo Sergio da Agência das Nações Unidas para os Refugiados
(ONU-ACNUR), Adriano Pistorelo advogado de migração do Centro de Atendimento ao
Migrante (CAM) e Maria Eduarda do Setor de Regulação Migratória do escritório
Scalabrini. O momento foi de protagonismo para a construção coletiva e a
efetivação de direitos. Roberto Portela reforça que a COMIGRAR é uma
oportunidade única da sociedade dizer ao governo federal da necessidade em
estabelecer políticas e condições dignas de cidadania para migrantes e
refugiados. “A Conferência Nacional do Migrante é uma excelente oportunidade
para colocarmos em prática o nosso sonho e aspirações de uma boa prestação de
serviços públicos aos migrantes refugiados e apátridas”. Disse Paulo.
A
primeira Conferência Nacional do Migrante trouxe luzes para questões
importantes, Paulo Sérgio lembra que a Lei 13.445/17 que dispõe políticas entre
elas a não criminalização da migração é fruto da primeira COMIGRAR. “É
fundamental que a população refugiada, migrante e apátrida seja participante em
todas as instâncias da elaboração e construção dessa política de diálogo com o
governo, ela sabe quais são suas necessidades, as pessoas se tornam agentes e
isso fortalece o processo popular e democrático”. Ressaltou Paulo.
“É fundamental que a população
refugiada, migrante e apátrida seja participante”
Com
informações do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) até o ano de
2022, mais 1,3 milhão de imigrantes residem no país, mais de 50 mil são
refugiados. Estes espaços de debates são importantes para criar mobilizações em
diversos segmentos e sensibilizar a sociedade civil, organizações e coletivos
para a causa da migração que sofre diversas violações de direitos.
Entre
as propostas de pautas para as diretrizes de políticas e direitos, os
participantes sugeriram melhorias para os processos de regularização documental
migratória, igualdade de acesso aos serviços públicos, mercado de trabalho e
moradia. As propostas refletem as dificuldades que migrantes e refugiados
passam diariamente em todo país. Nos relatos é perceptível a ausência da
sensibilização para atendimentos prioritários, barreira de comunicação em
virtude de diferentes idiomas, burocracia que impede agilidade nos processos de
documentação são um dos fatores. As mulheres migrantes são maioria entre os
grupos de vulnerabilidade e têm menos acesso a direitos pelo simples fato de
ser mulher, disse um dos participantes.
Migrantes e refugiados de várias regiões do Brasil, participaram do momento. | Foto: SPM |
Delegada e delegados
eleitos
Durante
a conferência livre da SPM foi realizada a eleição para as escolhas dos
delegados que representaram os polos. Os participantes preencheram um
formulário de inscrição para votar e elegeram seus candidatos. Foram eleitos
três delegados venezuelanos que irão representar as conferências livres
nacionais. Tania Griselda, Derwis Josué e Jhimys Elias representarão a
conferência livre da SPM.
Tania
Griselda ficou em primeiro lugar com a maioria dos votos, ela que chegou ao
Brasil em 2018, é profissional na área de recursos humanos e se sente feliz com
a escolha. Para ela é uma forma de retribuir seu acolhimento e da família e
fortalecer a sua luta com a fundação criada por ela, a Associação dos
Venezuelanos no Brasil (Assovenbra).
Derwis
Josué é marceneiro, veio para o Brasil em busca de melhores condições de vida
para ele e família. Mesmo com as dificuldades sociais do Brasil, Josué conta
que conseguiu de certo modo segurança para viver, afirma que o estado da
Paraíba lhe acolheu, seguiu sua profissão de marceneiro e luta pela melhoria e
qualidade de vida dos migrantes.
Jhimys
Elias é técnico industrial, escolheu o Brasil para morar após forte crise
humanitária na Venezuela. O estado do Acre foi o local de acolhida para
estabelecer segurança para ele e família. Neste processo de migração ele diz
que a presença das pastorais foi fundamental para a reorganização da vida, não
só a dele, mas de toda sua família além dos migrantes que vivem esses momentos
no Brasil.
Ao
final da conferência da SPM, Paulo Illis coordenador Geral de Políticas para
Migrantes (CPMig), destacou o trabalho do Serviço Pastoral do Migrante, que
realiza uma importante cobertura no país e chega onde o governo não
consegue. Ele ressaltou a importância
dos delegados eleitos para a conferência que representarão as conferências
livres, estaduais e nacionais para propor diálogo no mês de junho.
Representando o governo ele falou que o Ministério da Justiça e Segurança
Pública está empenhado para atender as devolutivas da conferência.
Participantes da conferência livre da SPM | Foto: SPM |
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