Foto- Clicia Roberta | Cáritas |
Mobilização e articulação entre povos originários e tradicionais, movimentos e entidades parceiras tem sido ferramenta de enfrentamento à violência que atinge as comunidades e também na defesa dos direitos
Heloisa Sousa | CPT
Animado com cantos e elementos de espiritualidade, o segundo dia do Seminário Povos e Comunidades Contra a Violência, nesta quarta-feira, iniciou com mística trazendo a terra, a água, as sementes e a palavra de Deus ao centro do espaço das falas. Dando continuidade ao momento de partilha dos desafios e conquistas nos territórios, iniciado no primeiro dia, os grupos destacaram a contaminação dos rios e das matas pela pulverização de agrotóxicos e garimpo de ouro, além da invasão dos empreendimentos de transição energética nas comunidades.
“Dos territórios vêm nossos direitos, nossas lutas, nossas espiritualidades e nossas forças e é nos territórios onde a gente constrói nossas redes”. A fala é do padre Dário Bossi, assessor da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora (Cepast-CNBB), que apresentou o Projeto Popular “O Brasil que queremos: o bem querer dos povos", lançado no dia 02 de agosto.
A manhã também contou com análise de conjuntura, realizada por Luis Ventura, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Segundo ele, uma boa análise deve ser feita a partir dos territórios, que são, ao mesmo tempo, o lugar do conflito e o lugar da vida, dos conhecimentos e das ancestralidades. “A luta pela terra e pelo território é a principal, é a mais estratégica. Sabemos que é absolutamente fundamental para o capital a invasão e o roubo dos territórios”.
Luis Ventura falou ainda do papel do Estado no fortalecimento do agronegócio e dos grandes empreendimentos da indústria energética, que violentam os povos. “A gente vem de uma noite escura, de quatro anos de governo Bolsonaro, um ano de governo Temer e um processo de ruptura. Mas nós não podemos usar isso como muleta para aceitar migalhas do atual governo e do Congresso”, alertou.
O momento foi de reflexão sobre os interesses políticos colocados acima dos direitos dos povos e comunidades. Ao mesmo tempo em que o posicionamento do Superior Tribunal Federal (STF), que definiu a tese do marco temporal como inconstitucional, é vista como uma vitória, é necessário retomar as mobilizações e enfrentamentos. “Como vamos enfrentar o cenário atual? A articulação é fundamental para os enfrentamentos, que devem passar pelas retomadas, autodemarcação dos territórios e cobrança permanente ao Estado. Não vamos recuar”, completou Luis.
Foto: Cláudia Pereira - APC |
Sinais de esperança e bem viver
Orientado pelo relato das experiências de luta de Alessandra Korap, liderança Munduruku, em seu território, o debate realizado na parte da tarde abordou questões como contaminação por mercúrio, saúde, formação de lideranças e a atuação das mulheres na luta.
“A gente precisou se posicionar, entrar na frente e falar que agora é nossa vez, que nós vamos decidir juntos”, contou Alessandra a respeito dos desafios enfrentados pelas mulheres nos espaços de decisão nas comunidades. A fala inspirou as demais participantes do seminário, que trouxeram as experiências de organizações de mulheres nos locais em que vivem.
Dona Ana, guardiã de sementes no Rio Grande do Norte, falou sobre a importância dos momentos de encontro, troca de saberes e experiências dos povos dos diversos territórios na continuidade e fortalecimento da luta. “Foi muito difícil para mim chegar até onde estou hoje, pegar em um microfone desses e falar. Hoje, eu faço tudo pelo conhecimento e pelo amor às sementes”, ressaltou.
O encerramento do dia enalteceu a Campanha Contra a Violência no Campo. Alessandra Farias, que integra a coordenação da Campanha e a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), destacou que todas as ações são ferramentas de lutas contra ass várias formas de violência contra os povos.
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